Entenda as conexões de microfone na mesa de som

A voz é um elemento muito importante, seja na música ou na fala. A voz conecta as pessoas e comunica aquilo que o emissor quer que seja transmitido. Nesse sentido, é um dos aspectos mais importantes em gravações e apresentações ao vivo, e merece uma atenção especial.

O equipamento que capta a voz é o microfone, existindo vários tipos deles, além de diferentes formas de conectar o equipamento. Por isso, o objetivo deste artigo é oferecer um guia para você fazer as conexões do microfone na mesa de som corretamente, além de saber o básico antes de partir para a compra de equipamentos.

Como o tema deste artigo são as conexões de microfone em uma mesa de som, o foco será no áudio analógico, nas conexões e cabos desse tipo.

O MICROFONE

O microfone é um equipamento transdutor, que recebe um tipo de energia e transforma em outro. No caso do microfone, ele recebe a energia da pressão sonora e transforma em energia elétrica. Também podemos dizer que é um captador de som: ele vai receber uma vibração sonora e transmiti-la até a mesa ou interface de áudio. Isso pode ser feito através de cabos ou não – como é o caso dos microfones sem fio que utilizam um sinal de radiofrequência, e que será tratado mais adiante neste artigo.

Existem alguns tipos de microfone, os mais conhecidos e utilizados são os condensadores e os dinâmicos.

Os dinâmicos possuem um ímã, uma bobina metálica e um diafragma que se move de acordo com a pressão sonora. Justamente por essa constituição, não precisam de alimentação externa para funcionar. O ímã gera o campo magnético e a bobina metálica, que é movimentada pela pressão imposta ao diafragma, gerará a corrente elétrica análoga ou som recebido. São menos sensíveis que os condensadores, consecutivamente, recebem muito menos interferências de outras fontes de som e produzem menos ruídos. São mais pesados e resistentes.

Já os microfones condensadores captam o som através de duas placas metálicas muito finas, com uma delas previamente carregada. O som faz vibrar a primeira, que funciona como um diafragma. São muito mais sensíveis, na própria resistência do equipamento, tanto quanto na captação. Por isso, são muito permeáveis a outras fontes de som, como os ruídos do ambiente. Além das placas metálicas, também é alimentado um circuito que amplifica o sinal para que ele possa ser transmitido através do cabo. Esse sistema é o que impõe a necessidade de uma alimentação de energia externa, garantida por meio de pilhas/baterias ou ativada na mesa/interface de áudio que receberá a conexão. Essa energia extra é conhecida como “phantom power” (“energia fantasma” em inglês) e, na maioria dos modelos de mesas, é indicada com o sinal “48V” ou “+48V”. Isso, pois o phantom power fornece 48 volts em corrente contínua (DC) e polarizada positivamente (+). 

CABO E SINAL

Estas informações sobre microfone aqui resumidas são importantes para entender as diferenças quanto ao cabeamento e às conexões.

Os cabos de sinal analógico transmitem corrente elétrica por fios até um receptor que irá interpretá-los, ou uma mesa de som, sendo que esses cabos podem ser balanceados ou não.

Os cabos balanceados possuem três fios condutores, sendo um com polaridade normal, outro polaridade invertida e um fio neutro comum entre os dois (“terra”). Este tipo de cabo proporciona o tráfego de sinal mais limpo, com muito menos possibilidade de indução de ruído. Através de um fenômeno eletrônico, ocorre o cancelamento do ruído que tenta entrar no cabo. Vale lembrar que a própria passagem de corrente pelos fios pode gerar sinais elétricos que podem ser captados pela mesa, interferindo no som. Fios grandes também podem captar sinais eletromagnéticos de estações de rádio, por exemplo. Quanto maior o cabo a ser utilizado, maior a possibilidade desse tipo de interferência. Ou seja, sempre que puder, utilize cabos balanceados.

Um cabo transmite energia que, no caso dos equipamentos de áudio e vídeo, é chamada de sinal. Os tipos de sinal variam de acordo com a quantidade de energia e com a própria resistência do cabo e impedância do sistema. Por terem esses valores muito distintos, microfones e instrumentos elétricos necessitam de cabos e entradas específicas na mesa de som. Microfones possuem um sinal muito fraco, eles precisam ser fortalecidos para chegarem ao nível de linha, que é o nível de sinal já pré-amplificado, pronto para ser enviado a um equipamento que processa esse sinal, ou gravador, sendo com energia suficiente para ser audível, mas não tanta energia a ponto de ser distorcido. Essa “força” que o sinal ganha é chamada de amplificação e se obtém através dos pré amplificadores (apelidados de “pré amp”, “preamp” ou simplesmente “pré”) que dão um ganho de energia para o sinal de microfone. A maioria das mesas e interfaces de áudio atualmente já vem com pré amplificadores nas entradas de sinal embutidos, onde se pode controlar a quantidade de ganho no sinal. Nesse caso, basta ligar o microfone diretamente na mesa.

Importante lembrar que as mesas de som possuem, em cada canal, duas entradas para receberem sinais distintos: entrada line e entrada mic. As entradas mic são preparadas para receberem sinais muito fracos, característicos dos microfones. As entradas line recebem sinais muito mais fortes, onde devem ser ligados equipamentos com saída de linha.

CONEXÕES

O cabo é conectado na mesa ou no microfone através de um conector comumente chamado de plugue. O plugue que recebe o sinal do microfone/instrumento é chamado de fêmea. Já o plugue que conecta o cabo em diversos equipamentos é chamado de macho.

Os dois tipos de conexões mais comuns são XLR e TRS.

O cabo XLR normalmente possui três pinos no conector macho e três entradas no conector fêmea. Microfones de melhor qualidade possuem uma saída XLR, e é comum que esse tipo de cabo seja balanceado. Já o TRS é o plugue do pino cilíndrico com alguns anéis que fazem o contato com o aparelho no qual será conectado, sendo que, no Brasil, são conhecidos pelos tamanhos P1, P2 e P10. Existem também os cabos TS, que possuem uma conexão com apenas dois contatos e que não são balanceados.

As mesas profissionais dispõem na entrada MIC conexão XLR e na entrada LINE conexão TRS. As mesas de som mais baratas, apresentam duas entradas TRS tanto para MIC, quanto para LINE, o que pode gerar problemas se não forem observadas as especificações de cada entrada levando em conta o tipo de sinal.

EQUALIZAÇÃO DE MICROFONE

A voz humana pode produzir várias frequências de som. Sem entrar em detalhes quanto a fisiologia ou aos elementos do som, podemos dizer que frequências baixas geram sons graves e frequências altas geram sons agudos. Quando estamos gravando ou em apresentações ao vivo, podemos trabalhar essas características do som, de modo a produzir o som mais agradável possível. Além disso, dependendo da qualidade do equipamento, do ambiente e da própria voz de quem está usando o microfone, podemos produzir sonoridades indesejadas. Esse processo de alteração das frequências é chamado de equalização.

Tanto nas mesas de som de som analógicas quanto nas digitais é possível trabalhar cada uma dessas frequências em separado, reforçando ou atenuando cada uma dessas faixas quando necessário. Algumas mesas mais simples possuem controles de frequências altas e baixas. Nas mesas mais sofisticadas, se encontram os três controles: altos, médios e baixos. Na maioria das mesas estão disponíveis alguns recursos acionáveis com um botão, como o corte de graves, por exemplo, normalmente indicado pela expressão em inglês “low cut”.

A prática e o estudo sobre áudio é o que vai orientar as melhores opções de equalização para cada situação, levando em conta quem vai falar no microfone e o ambiente. Para começar, é bom lembrar que o ouvido humano tende a receber melhor as frequências médias, ou seja, sons muito graves ou muito agudos tendem a incomodar a audição, atrapalhando a recepção do público. 

MICROFONIA, REVERBER E RUÍDOS

Alguns problemas sonoros são muito comuns e estão relacionados diretamente com o ambiente, a propagação e a operação do som. Ou seja, dependendo do que acontecer, existem soluções eletrônicas, a nível de operação de mesa, e soluções de acústica, a nível de posicionamento do sistema de som e do ambiente.

Certamente, o mais corriqueiro é a microfonia, quando o microfone passa a receber uma “realimentação”, ou seja, o som é captado pelo microfone, é processado pelo sistema de som e projetado pelos alto falantes – nisso, encontra um “caminho de volta” para o mesmo microfone que captou o som inicialmente. Esse problema pode ser solucionado pela equalização, com o corte de determinadas frequências que estejam sendo realimentadas. Porém, essa solução exige experiência do operador e tempo para testes, o que muitas vezes não é possível. O ideal é trabalhar em cima do posicionamento dos microfones e caixas de som, impedindo que o microfone capte o som direto que está sendo emitido ou, até mesmo, seus reflexos.

Além da microfonia, uma má instalação do sistema de som e do ambiente pode provocar o reverber excessivo  no ambiente. Da mesma forma, o reverber é provocado pela reflexão do som no ambiente, que é novamente captado pelo microfone, e deve ser corrigido com o posicionamento do sistema dos alto falantes e do microfone. O ideal, quando possível, é trabalhar o ambiente para evitar esse tipo de efeito. Vale lembrar que o reverber pode ser propositalmente inserido na transmissão do sinal, como um efeito sonoro, quando desejado, existindo inclusive processadores nas mesas que simulam o reverber.

Outra problema comum são os ruídos, que são alguns sons perceptíveis que incomodam a audição. Pode ser originado pela má qualidade ou danos nos microfones e cabos. 

MICROFONE SEM FIO

É muito comum ver em apresentações ao vivo os famosos microfones sem fio. Eles são muito utilizados em apresentações não musicais, como cultos religiosos, cursos e aulas. A grande vantagem em relação aos microfones com fio é a liberdade de movimento proporcionada, porém, essa mesma liberdade pode ocasionar alguns problemas, principalmente relacionados à acústica. Como foi referido anteriormente neste mesmo artigo, problemas de realimentação de sinal e reverberações são muito comuns. Eles podem ser potencializados levando em conta que o microfone está em movimento pelo palco, passando repetidamente na frente dos alto falantes, por isso, muita cautela na utilização desses equipamentos.

Além disso, é importante entender como funciona o microfone sem fio: o microfone se comunica com um receptor de radiofrequência conectado à mesa por uma ligação XLR ou TRS. Algumas marcas possuem as duas saídas – nesse caso, utilize a conexão XLR na entrada MIC e a TRS na entrada LINE. Isto porque, normalmente, as conexões XLR são usadas para níveis baixos de linha, enquanto as de padrão TRS são para alto nível. Algumas marcas de menor qualidade possuem somente conectores TRS para serem conectados em entradas LINE. De qualquer forma, lembre-se sempre de tirar todo o ganho dos pré amplificadores ANTES de fazer qualquer conexão. Ainda assim, tome o cuidado de dar ganho no microfone aos poucos, isso vai prevenir sobrecargas de eventuais conexões erradas, ou quando estiver trabalhando com uma nova mesa.

Cabos TRS e XLR

Como é de se imaginar, esse sistema de transmissão pode facilmente sofrer interferência de outras estações de radiofrequência potentes próximas, devendo ser avaliado seu uso quando o local for próximo a antenas que emitem sinais em range de frequência parecido com o utilizado pelos seus microfones sem fio.

Existem os microfones sem fio de mão, cuja antena transmissora está acoplada no próprio microfone ou em uma pequena caixa transmissora que deverá ser presa na cintura ou na roupa de quem irá utilizá-lo. Existem também os microfones sem fio de lapela, muito menores e que podem ser presos na camisa, ou os headset que ficam presos na altura das orelhas, dando total liberdade de movimentos. Os modelos de mão têm, na maior parte das vezes, melhor qualidade sonora, enquanto os de lapela e headset são indicados em gravações onde o microfone não deva aparecer ou quando a mobilidade for indispensável, caso de pessoas que precisam cantar e dançar ao mesmo tempo, por exemplo.

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Nerau