Página Inicial Áudio na igreja
Carlos Pinto, 30/10/2019
Diversos problemas acústicos com microfonação podem surgir durante seu trabalho, afinal de contas, a acústica de um local interfere diretamente no uso dos microfones.
Por isso, entender um pouco sobre a acústica e como ela influencia no som é fundamental para executar um bom trabalho de sonoplastia.
Nas linhas abaixo você aprenderá um pouco mais sobre acústica e como resolver os principais problemas que podem surgir durante um evento ou gravação.
Problemas acústicos com microfones
A acústica do ambiente certamente nos trará problemas quanto ao uso de microfones. Claro, isso quando não tivermos ideia de como a acústica se comporta e no que fazer para minimizar sua influência.
É importante saber que a captação de um microfone funciona da mesma forma que ouvimos um som qualquer.
Sendo assim, o som direto (guarde esse termo) é ouvido com a mesma intensidade ao som refletido (guarde este também) dependendo da posição que estamos dentro do nosso ambiente e também da distância da fonte sonora.
Bom, se não ouviu falar de nenhum destes termos, vamos às definições:
- Som direto: É o caminho mais curto percorrido entre a fonte sonora e nosso ouvido, ou microfone.
- Som refletido: Como o próprio nome sugere, é o som que reflete em uma superfície qualquer, chega por outro caminho e ligeiramente depois no nosso ouvido ou microfone.
Sim, eu sei que a velocidade do som é alta (aproximadamente 340 metros por segundos), mas essa pequena diferença de tempo (o delta t da imagem abaixo) é suficiente para mudar substancialmente o som que chega ao microfone.
Tenhamos em mente que o som refletido não é um único som, mas a soma de intensidades e tempos de todas as reflexões possíveis em nosso ambiente.
Inicialmente, trataremos só de uma primeira reflexão a título de estudo, mas a vida tende a ser bem mais complexa e cheia de truques.
Como resolver o problema de reflexão em superfícies
Um microfone em um púlpito é um dos exemplos mais clássicos de problemas por reflexão.
Quando o microfone do tipo gose neck (pescoço de ganso) ou quando a posição do microfone convencional fica muito próximo a uma superfície reflexiva, temos problemas de interferências devido às reflexões, isso causará cancelamentos de frequências devido a problemas de fase.
Aprofundaremos o que é uma fase e quais os seus problemas em outra oportunidade, por enquanto vamos nos ater ao tema.
A solução simples para tal problema seria um microfone na mão do orador, isso faz com que a proximidade da fonte sonora (cordas vocais do orador) faça do som direto uma fonte muito mais alta do que qualquer reflexão. Essa simples mudança minimiza os problemas com o som refletido.
Quantos microfones usar?
Resposta direta: o mínimo possível!
Quanto menor o número microfones captando sons indesejáveis em nosso ambiente, melhor – menores os problemas acústicos com microfonação. Logo devemos planejar tudo que deverá ser ouvido e sermos cirúrgicos na escolha do que e quando “microfonar”.
Exageros em um local com acústica descontrolada poderá ser muito prejudicial à qualidade e facilidade de compreensão do que está sendo reproduzido no som.
E quando não tem saída?
Bom, vou te contar uma breve história.
Uma vez, quando eu fazia operação de áudio para uma orquestra, pedi ao maestro que viesse até a frente das caixas acústicas comigo, para que ele ouvisse o som da orquestra e me dissesse o que deveria ser alterado, para que soasse de acordo com suas concepções.
O seu primeiro pedido foi que retirasse o agudo de todas as cordas (violinos, violas, cellos e contrabaixo). Comecei a seguir sua ordem e ele dizia: tire mais, tire mais, tire mais. Retirei quase todo o agudo das cordas e ele disse: agora está bom.
Perguntei a ele o porquê de tanta atenuação nos agudos e ele me respondeu: quero passar aos ouvintes aquilo que eu ouço. Com a posição que o microfone está ele capta muitos muito mais agudos do que eu ouço na posição que fico.
A ideia era bem clara: como tinha um microfone para cada instrumento de corda eles estavam muito próximos dos respectivos instrumentos, essa posição realça de forma demasiada os agudos.
Então, com a soma de todas as cordas era como se o maestro estivesse ouvindo ao lado de cada instrumentista e isso não era natural para ele.
Trazendo para o nosso mundo, podemos dizer que os mesmos problemas acústicos com microfonação acontecem com um coral.
Se tivermos um coral de trinta pessoas e colocarmos um microfone na mão de cada componente, o som tende a não soar natural, pois seria como se cada componente estivesse cantando ao nosso ouvido.
Entretanto, se colamos um único microfone, arriscamos a não captar a voz dos cantores mais distantes. Então, a solução é usar um microfone, adequando a distância e a área a ser captada, e separar o coral em grupos de cantores ou seus respectivos naipes de vozes.
Conclusão
Antes de pré-conceber uma ideia de microfonação devemos analisar cada situação e se a acústica do ambiente possibilita que nossa ideia seja um sucesso.
Nem demais nem de menos, somente o necessário.