Chegou ao fim a Semana da Mulher na Música, evento digital promovido pelo Mundo da Música, com a participação de mulheres incríveis e talentosas do nosso meio. Na última live do projeto, a cantora Simone Rasslan falou sobre sua carreira, a relação com o piano, a composição e a educação musical. 

Durante a semana toda, conversamos com as especialistas em técnica e áudio Lilla Stipp e Roberta Siviero, as multi-instrumentistas Aline Rissuto e Bia Villa-Chan, as cantoras Anaadi e Kamila Gabriel e as Djs Naah Ferraz e NAAT.

Agora, senhoras e senhores, vamos ao que interessa: a estrela Simone Rasslan!

Simone Rasslan: Rádio Esmeralda, prêmios, Xaxados e Perdidos

Nossa convidada é uma das cantoras mais conhecidas de Porto Alegre. Instrumentista, compositora, educadora musical e citada como referência pelo competente trabalho de preparação musical para atores, Simone Rasslan é uma das autoras do espetáculo Rádio Esmeralda, ao lado de Adriana Marques, que ficou em cartaz durante 9 anos. 

A artista foi premiada como cantora revelação em 1999, e seu álbum Xaxados e Perdidos é o grande vencedor do prêmio Açorianos de Música em 2012, levando quatro troféus: de melhor arranjador (para Álvaro RosaCosta, Beto Chedid e Simone Rasslan), melhor intérprete MPB para Simone, melhor Disco MPB e, o mais esperado, Disco do Ano. 

Além disso, Simone é doutora em Educação pela UFRGS, formada em Música – bacharel em Regência de Coral (UFRGS) e em Pedagogia. Atualmente, integra o espetáculo A Sbørnia Kontratracka, ao lado de Hique Gomez.

Inspiração dos pais e paixão pelo piano

“Não fui eu que decidi pela música, foi a música que me escolheu”, disse Simone ao explicar como tudo começou. A artista teve grande influência de seu pai, professor e radialista, que estimulava as crianças a cantarem e brincarem com a música. “Simulávamos programas de auditório com a molecada da rua”, conta.

A paixão pelo piano surgiu na casa da vizinha. “Minha vizinha ganhou um pianinho de presente e eu me apaixonei pelo brinquedo. Quando chegava em casa, fazia de conta que a mesa era o instrumento, dedilhava, improvisava e elaborava melodias. Minha mãe viu isso e me matriculou nas aulas”, revela. 

A professora-artista Simone Rasslan 

Simone ressalta a importância de todas as pessoas terem acesso à música. “A gente vive num país cheio de desigualdades e, na música, isso se mostra ainda mais. Tem gente que nunca teve a oportunidade de estudar música”, alerta.

Para a professora-artista, todos nós temos possibilidade de fazer música. “A espécie humana tem todos os requisitos básicos para isso. Nosso corpo é som. Além disso, a música é uma superfície de aprendizagem que faz com que as pessoas sejam mais suscetíveis ao outro, que estejam mais atentos às escutas – coisa que estamos precisando muito ultimamente”, diz.

Trabalhar para crianças ou com crianças?

O elogiado método de ensino de Simone tem uma explicação. “Precisamos ver o aluno como agente político e ser pensante. Isso tem a ver com uma pedagogia que não trabalha para crianças, mas com crianças”, explica. 

Para Simone, não existe a professora de música que dá a aula e os alunos que silenciam e apenas escutam. “O professor-artista elege o aluno como autor e coautor da criação. Música é algo que se faz junto”, acrescenta.

Música com humor, humor com música

O humor sempre esteve presente na carreira de Simone. Com a grande amiga Adriana Marques, criou a Rádio Esmeralda. “Adriana foi uma grande artista, sempre com o sorriso escancarado, a casa cheia e um humor sarcástico. Impossível a gente não colocar isso em cena. Queríamos ser felizes, foi assim que nasceu o show”, conta.

O espetáculo durou quase 10 anos, mas, infelizmente, Adriana faleceu em 2009, no auge da carreira, e Simone decidiu não continuar. A parceria com Hique Gomez em A Sbørnia Kontratacka surgiu gradualmente e com cuidado, visto que a dor pela perda de Adriana e de Nico Nicolaiewsky (companheiro de palco de Hique em “Tangos e Tragédias”) ainda estava muito presente. 

Consciência para enfrentar a pandemia

Simone e Hique estavam preparados para a turnê do show, mas foram surpreendidos pela pandemia. “Tivemos que reformular o espetáculo e construir de uma forma que pudesse ser transmitido online. O projeto recebeu o nome de Sbornia em revista”, diz. 

Sobre a pandemia, Simone é categórica. “Se você tem o mínimo de consciência política e humana, entenderá que não pode colocar as pessoas em risco. Além disso, estamos diante de uma doença desconhecida, uma verdadeira roleta-russa. Não se trata de você estar em risco somente, mas todos os outros”, lamenta. 

Para a cantora, pianista, compositora e outros diversos talentos, é preciso encontrar saída para sobreviver e seguir em frente. “Se tem algo que a arte faz, se tem um motivo para ela existir, é esse: quando a vida já não é suficiente, temos que encontrar outros caminhos com a música”, finaliza.