Conversamos com as multi-instrumentistas Aline Rissuto e Bia Villa-Chan na segunda live da Semana da Mulher na Música, uma iniciativa do Mundo da Música para trazer visibilidade e homenagear as grandes profissionais do nosso meio.

Durante o bate-papo, Tuanny Honesko conversou com Aline e Bia sobre carreira, projetos e inspirações. Confira agora como foi esse encontro especial e cheio de conteúdo.

Piano e composição são as paixões de Aline Rissuto 

Os primeiros passos de Aline na música se deram por influência de seu pai, José Rissuto, músico autodidata. Formada em Piano Erudito e pós-graduada em Educação Musical, ela é cantora, compositora, educadora e uma fera no piano. 

“Iniciei como autodidata e aos 17 anos aprendi a ler partituras, adquirindo mais conhecimento em linguagem musical”, conta. A artista dedicou-se também aos estudos de canto lírico, canto e piano popular. 

Além da composição e do piano – as grandes paixões da Aline, a multi-instrumentista também utiliza equipamentos como ukulele, violão, flauta e escaleta em seus projetos educacionais. Em 2017, a cantora lançou seu primeiro EP, todo produzido por ela. 

Dois anos depois, em maio de 2019, trabalhou no seu segundo disco, chamado “Passo” e, dando continuidade aos trabalhos como compositora, prepara um novo álbum com 3 canções que será lançado no próximo mês.

Bia Villa-Chan: dentista com música nordestina na veia 

Bia Villa-Chan é um dos maiores nomes da música nordestina na atualidade, rainha do bandolim, violão e guitarra baiana. Ela ganhou o Troféu Gonzagão e o 10º Prêmio da Música Pernambucana em 2019, além de fazer o Galo da Madrugada, o maior bloco carnavalesco do planeta.

A história de Bia com a música também começou ainda na infância, quando acompanhava os acordes do avô, o músico Heitor Villa-Chan. “Comecei no bandolim, depois veio o piano, o contrabaixo, o violão e depois guitarra baiana, clarinete, bateria e saxofone”, diz. 

Com graduação em odontologia e mestrado em engenharia biométrica, foi em 2017, após um problema de saúde, que a musicista decidiu viver da música e dedicar-se ao que lhe fazia realmente feliz. Dá só uma olhada no clipe incrível de Sonhos Roubados, música que Bia lançou com Luiz Caldas. 

Educação e música: uma relação que dá certo

Autodidata dos instrumentos que toca, Bia conta que a mente inquieta sempre busca alternativas para experimentar outras sonoridades, mas afirma que estudar é fundamental para a carreira. 

“Você vai criando a sua identidade musical, por isso, aprender com quem já sabe é importante. Aprendi a tocar sozinha, mas chega um certo momento em que você precisa expandir o conhecimento”, revela. 

Bia acredita que aprender a tocar um instrumento é uma ótima oportunidade para pessoas de qualquer idade. “Inclusive, estudos já comprovaram que a música é capaz de adiar o desenvolvimento do Alzheimer, por exemplo. A música cura e, nesse momento de pandemia, muita gente se aventurou por ela, alimentando a alma e expandindo a mente”, completa.

A educadora Aline e sua metodologia própria

Falando em educação musical, Aline criou um método próprio de ensino. “Em 2002, comecei a dar aula para crianças e naquela época era mais difícil encontrar conteúdo na internet. Então, comecei a compor e a criar exercícios e brincadeiras de minha autoria”, conta. 

O projeto, que até então era para crianças e adolescentes da escola, deu tão certo que ano passado começou a ser comercializado de forma independente. “Tudo é autoral, os desenhos, as músicas, a construção é toda minha”, explica. 

Educadores interessados em capacitação com a artista podem seguir o perfil @alinerissutoeducadora e se preparar para o próximo curso que inicia em 10 de abril. 

Mulheres multi-instrumentistas talentosas e com lugar de fala

Sobre o preconceito na área, Bia conta que no mundo machista ainda existem pessoas que se espantam ao ver uma mulher à frente de homens no palco. “Não são apenas os homens que se chocam, mas as próprias mulheres. E é isso que me deixa mais triste”, lamenta.

A artista cansou de ouvir frases como “você toca como um homem” e revela sua indignação sobre o assunto. “Já subi no palco com uma capa escrita ‘toque como uma mulher’. Só por sermos mulheres já precisamos provar dez vezes mais nosso talento e potencial”, desabafa.

Aline também passou por poucas e boas, inclusive com comentários como “você que fez essa música mesmo?” Para ela, é importante se impor e exigir o respeito que merece. “Respondo que faço a letra, a música, o arranjo, toco e canto. E que componho como uma mulher, aceita que sou eu que estou aqui”, diz.

O carnaval na pandemia e a necessidade de olhar para os músicos

Como Bia explica, o carnaval para Pernambuco é sagrado e está fazendo muita falta. “É frustrante, pois nunca pensei que chegaríamos em 2021 com o número de casos subindo e a pandemia se agravando. E o pior de tudo é que não temos perspectiva de melhora”, avalia.

Aline acrescenta que a sensação é de mãos atadas nesse momento. “Não tem uma luz no final do túnel e a pessoa responsável por fazer alguma coisa faz exatamente o inverso do que deveria”, critica.

“Tenho amigos vendendo seus instrumentos musicais porque o filho está precisando comer. Alguém tem que olhar para a classe dos músicos, pois eles estão passando fome”, alerta. Bia sugere ainda que quem não pode ajudar com dinheiro, auxilie na divulgação do trabalho do artista. “Vai lá curtir o seu canal no YouTube e compartilhar suas músicas”, conclui Bia.

O fim da live contou até com uma “palhinha” de músicas autorais das cantoras e multi-instrumentistas!