Duas vozes maravilhosas marcaram a terceira live da Semana da Mulher na Música – proposta do Mundo da Música para homenagear as grandes profissionais do nosso meio. Na noite de hoje, Tuanny Honesko conversou com Anaadi e Kamila Gabriel sobre a carreira das cantoras, como tudo começou, projetos e muito mais.

A premiada compositora e cantora Anaadi

Destaque na nova geração de artistas brasileiras, Anaadi consagrou-se em 2018 ao vencer, nos Estados Unidos, o Grammy Latino, maior prêmio da música popular latino-americana, tendo seu álbum Noturno premiado na categoria Melhor Álbum Pop Contemporâneo em Língua Portuguesa. 

Em 2020, a artista fez duas colaborações em parceria com artistas nacionais e internacionais. Um deles foi o single Mas Que Nada, em versão de salsa com samba, com o produtor e percussionista Tony Succar, duplamente premiado pelo Grammy Latino 2019.

Outra música foi Corcovado, feita em parceria com Edu Martins, um dos mais respeitados arranjadores e baixistas da música brasileira. Atualmente, Anaadi prepara seu segundo disco, chamado de “iluminar”.

Kamila Gabriel: televisão, orquestra e Banda Soudha

Cantora há 20 anos e filha de músicos, iniciou sua carreira participando do programa Gente Inocente, em 2001. A artista também foi semifinalista nos programas Ídolos e Raul Gil em 2008 e 2011, respectivamente.

No SBT, a cantora venceu o programa Máquina da Fama, em 2015. Entre outros projetos, já se apresentou com a Orquestra Sinfônica do ES no concerto Rock Sinfônico e fez lindamente o espetáculo Michael Jackson in Concert. 

Rockestra, Outubro Rosa, Natal Solidário, além de vários concertos e solenidades com a banda marcial do 38º Batalhão de Infantaria, também estão no currículo da artista. Atualmente, é vocalista da banda Soudha, casada com o violinista Lucas Azevedo e mãe do Noah.

O processo de descoberta da voz 

Anaadi descobriu ter potencial quando começou a cantar jazz na adolescência. No entanto, tinha dúvidas se conseguiria seguir a carreira, visto que o seu timbre era muito diferente das vozes de suas maiores referências: Marisa Monte e Gal Costa.

“Pensava que não poderia ser cantora, mas, quando escutei a música negra e o soul, entendi que havia espaço para meu timbre”, conta. Anaadi flutua com leveza por entre as potencialidades de sua versátil voz, revelando ecos de um mundo urbano, instigante e miscigenado.  

Já Kamila Gabriel diz que foi inserida na música pelos pais, que são músicos, e só se deu conta do talento já com 18 anos. No entanto, ainda criança participou do primeiro programa na televisão. 

“Nasci por conta da música. Meus pais tinham banda e me apresentaram ao mundo artístico ainda na barriga da minha mãe”, diz. A cantora se encontrou de verdade quando entrou para a banda Soudha e compreendeu que sua identidade estava muito relacionada com o disco, a música negra, a velha guarda e os anos 70.

Ser cantora é dom ou técnica? 

Kamila acredita que a voz pode ser desenvolvida com estudo e dedicação. “Para ser profissional é necessário passar por professores capazes de tirar o melhor de você, até para entender qual é o seu limite, até onde pode ir”, acredita.

Para ela, a voz é um instrumento orgânico e, sem o direcionamento necessário, pode ser arriscado e prejudicar esse processo. O dom entra na essência artística e na veia. Tem gente que canta maravilhosamente bem, mas não consegue passar a mensagem. “É possível cantar bem com treino e conhecimento, mas para ser artista é preciso ter o dom”, complementa. 

Anaadi confia que os dons nascem com as pessoas. “Vejo pessoas com a voz pequena, mas uma capacidade impressionante de tocar o outro”, revela. Ao mesmo tempo, também considera importante desenvolver a técnica com estudo. 

A pandemia e a cultura no Brasil

Para Kamila, a solução foi estar no meio digital. “Não tivemos outra saída além de investir nas lives para permanecer no cenário musical. Embora tenha formação em publicidade, minha renda principal sempre foi a música. Ainda assim não tem a segurança do cachê combinado previamente, pois é algo colaborativo”, acrescenta.  

Anaadi também trabalha com jingles e locução, o que a desafogou um pouco durante a pandemia. No entanto, a cantora acredita que a profissão de músico no Brasil é mal remunerada e mal regulamentada. “Ainda que o artista ganhe 20 mil por show, se ele parar de fazer o cachê também acaba”, diz.

A intérprete também alertou para a dificuldade em se manter durante o ano todo com a profissão. “Você precisa guardar dinheiro para os meses que não têm trabalho. Um mês pode ter muito, mas no outro não”, conta.

Saiba neste post como ajudar os músicos em situação de vulnerabilidade.

Assédio, desrespeito e preconceito por serem mulheres

Não é de hoje que as mulheres sofrem preconceito em algumas profissões. Anaadi lembrou a história de Chiquinha Gonzaga, renegada pelo pai por querer cantar. 

“O assédio está em diversos elementos. Falta generosidade, pois música é para compartilhar. Se você não sabe cantar, bata palmas. Música é para fazer as pessoas felizes”, conclui.

Kamila também teve experiências negativas por conta do assédio e do preconceito por ser mulher. “Se o homem precisa falar para expor seu trabalho, nós temos que berrar”, conclui.

Perdeu o bate-papo com essas cantoras incríveis? Assista no canal do Mundo da Música essa e as outras lives com mulheres que fazem a diferença na música.