Como a música age no cérebro

As canções e a humanidade caminham juntas desde os seus primórdios. Definitivamente, uma não existiria sem a outra. Porém, pouco se fala sobre a importância do som para a nossa mente e como a música age no cérebro humano.

Neste artigo, vamos entender de que forma ela atua diretamente no sistema nervoso, causando sensações psíquicas importantes para a nossa vida. 

E não é de hoje, pois a história da grafia musical iniciou no século 1, quando os monges fechados em seus mosteiros com grandes bibliotecas, tiveram bastante tempo para estudar o assunto.

De lá para cá, já se descobriu que a harmonia, a melodia e o ritmo disparam no cérebro a liberação de endorfina e neurotransmissores como a dopamina, por exemplo.  

A música promove conexões cerebrais

A música tem o poder de ativar os dois hemisférios do nosso cérebro, criando uma série de conexões entre ambos. 

Quer saber como isso funciona? As ondas sonoras emitidas provocam uma cadeia de sinais eletroquímicos que fazem nossos tímpanos entrarem e saírem. Ao chegarem ao córtex auditivo, nosso cérebro age analisando a música em relação ao tom, timbre, harmonia, volume, localização espacial e ressonância.

O córtex auditivo é quem “entende” o ritmo da canção. Sendo assim, quando o som desperta esses sinais eletroquímicos, outras áreas do cérebro também são ativadas: movimento, memória, atenção e, claro, emoção. 

Em uma linguagem mais popular (e bonita), podemos dizer que o lado direito do nosso cérebro é responsável por imaginar e permitir que as emoções voem, enquanto o lado esquerdo ativa a parte mais racional como, por exemplo, o significado da letra, figuras musicais, tempo, ritmos, etc. 

O nosso cérebro é mesmo incrível, não é? Ele explica absolutamente tudo! Quer saber porque as pessoas mais idosas não reagem bem a certos sons? Segundo um estudo feito em 1998, na Universidade de Ohio, há perda auditiva na terceira idade e alguns sons podem ficar distorcidos.

Ocorre que, nessa fase da vida, a percepção de altas frequências diminui e as baixas frequências – como o baixo e a bateria do rock – aumentam. A microfonia, por exemplo, pode ser muito dolorosa para essas pessoas. Isso explica muitas coisas, você concorda? 

É dessa forma que a música age no cérebro dos mais idosos, fazendo com que prefiram sons mais calmos.

Pesquisas comprovam os benefícios da música

Responsável por sensações físicas como calafrios, tristeza, alegria, choro, relaxamento ou até tensão muscular, a música gera prazer ao cérebro, ativando a área de recompensa da mente.

A constatação é de Daniel Levitin, um dos autores da pesquisa desenvolvida pela Universidade McGill de Montreal (Canadá), que permitiu constatar, pela primeira vez, esses estímulos prazerosos. O pesquisador é um dos mais influentes do mundo nas descobertas de como a música age no cérebro dos seres humanos. 

Esse estudo de Levitin, que também inspirou seu livro “A música no seu cérebro”, estabelece que o sistema opióide influi nas áreas da mente humana que são ativadas com estímulos prazerosos parecidos com os que a comida, as drogas e até o álcool provocam.

Valorie Salimpoor, pesquisadora e ex-aluna do pesquisador, liderou outro estudo com 19 pessoas ouvindo 60 trechos de músicas que nunca tinham experimentado antes. Durante a experiência, uma máquina de ressonância magnética funcional (RMf) fez o scanner cerebral deles.

A ideia era analisar quem estaria disposto a comprar as músicas escutadas. E o resultado foi surpreendente: quanto maior a atividade no núcleo accumbens – centro de aprendizado e prazer do cérebro – e os efeitos da música, mais dinheiro as pessoas disseram que estavam dispostas a gastar. 

Ou seja, quanto mais a música emocionava, maior era a disponibilidade para ouvi-la novamente. Pegando carona na emoção, outro estudo, esse feito na Inglaterra, revelou que ouvir uma canção pode ajudar a reduzir a dor crônica e diminuir as incidências de depressão em até 25%.

Somos muito do som que gostamos de ouvir

Se você observar, vai ver que até sua forma de andar está relacionada com a música que ouve enquanto caminha. Pode até ser inconsciente, mas nossos pés acompanham o ritmo da canção que escutamos. 

Além disso, cantar a música que gostamos não apenas exercita o coração, mas movimenta os pulmões e, consequentemente, melhora a nossa saúde física. É por envolver descobertas surpreendentes a cada passo, que a forma como a música age no cérebro é estudada há tantas décadas.

Quem gosta de escutar, por exemplo, música clássica, revela que o estilo aumenta a capacidade de concentração e provoca relaxamento. Já músicas como samba e rock podem aumentar o desejo de dançar e sair com os amigos. 

Ainda segundo estudos, atletas que praticam atividades relacionadas à corrida, preferem as músicas mais rápidas ou motivacionais para atingir um resultado melhor. E por aí vai.

Os diferentes padrões de atividade cerebral, evidenciados nas pesquisas já feitas, estão diretamente relacionados ao agrado ou desagrado com as músicas apresentadas.

Ao expor uma pessoa a músicas que ela gosta muito e a outras que ela nunca ouviu, a diferença nos padrões de ativação cerebral é unânime. 

Sendo assim, ao ouvir uma canção que você gosta, ocorre uma atividade específica no hipocampo – a região cerebral que desempenha um papel fundamental na memória e nas emoções vinculadas à socialização. 

Como a música age no cérebro das crianças

A neurociência já estuda há muito tempo a relação entre as crianças e a música. Adultos na terceira idade que aprenderam a tocar algum instrumento na infância possuem mais vigor e saúde cerebral. 

O treino musical causa modificações no psíquico, tornando mais ativo o desenvolvimento de áreas do cérebro. Além disso, a integração sensorial entre audição, tato e visão é consideravelmente mais efetiva em adultos que tiveram alguma experiência musical quando pequenos.

Os mesmos benefícios podem ser identificados nos bebês que escutam músicas desde a barriga da mãe. Há comprovação de um aumento de atividade cerebral do feto quando uma canção é experimentada. Não é incrível a forma como a música age no cérebro desde a barriga da mãe?

Sendo assim, estimular o pequeno a sons calmos e relaxantes é interessante, visto que o aparelho auditivo se forma ainda no começo da gestação. Aliás, a audição é o primeiro sentido desenvolvido pelo bebê. É exatamente por isso que ele pode até mesmo reconhecer a voz de sua mãe antes de qualquer outro som.

As gestantes que escutam 30 minutos de música durante o dia conseguem melhorar sintomas comuns na gravidez, como ansiedade e alguns desconfortos. Além disso, com a produção de hormônios relacionados ao prazer, a mulher aumenta a autoestima e se sente mais relaxada ao ouvir uma canção. 

A importância de como a música age no cérebro para o desenvolvimento humano já foi formalizada com a sanção da Lei nº 11.769. A medida torna obrigatório o ensino da música na educação básica, que pode ser integrada a disciplinas como artes, sem constituir uma matéria específica.

Sentir a música faz a mágica acontecer 

Todas as regiões cerebrais (atenção, planejamento e memória) envolvidas quando escutamos uma música que gostamos são ativadas e nos transportam para algum lugar especial, gostoso de estar. 

Quando experimentamos a música, e devemos fazer isso várias vezes ao dia, uma porção de sentimentos acontece, muito além do mero processamento do som. É incrível como uma música pode mudar o estado de espírito de alguém.

Somos levados à infância, à casa dos avós, ao casamento ou até a algum momento nem tão feliz. Não importa, pois o fato é que a música desperta em nós o verbo que mais precisamos: sentir. 

Sentir que estamos vivos! É isso que a música faz!

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Nerau