Mixagem para platéia de igrejas

Fazer uma mixagem para platéia em uma igreja pode ser uma missão complexa para quem acabou de receber esse cargo.

Já sabemos que nossos ouvidos não são bons microfones, mas são capazes de distinguir entre frequências graves, médias e agudas. Essas 3 regiões podem ser subdivididas de várias formas, e um treinamento auditivo vai ajudar seu ouvido a percebê-las.

Há várias formas de treinar e eu sugiro um trabalho do Alton Everest, chamado Critical Listening Skills for Audio Professionals onde, capítulo por capítulo, vai conduzindo seus ouvidos a um passeio pela paisagem sonora, com exemplos em áudio (MP3).

A forma mais divertida de subdividir as frequências é uma comparação feita pelo Fábio Henriques no seu Guia de Mixagem I, associando impressões sonoras ao excesso e à falta de 10 regiões entre os limites da audição humana.

É importante lembrar que, mesmo que você ajuste os faders de sua mesa de som real (hardware) ou virtual (software na DAW) para tratar excessos e faltas das frequências, o ambiente da igreja por interferir na mixagem, como veremos em seguida.

Mas, antes de começarmos, preencha o formulário abaixo para receber mais dicas interessantes como esta diretamente no seu email.

Vamos à comparação: 

Tabela de subdivisão do espectro de frequências audíveis
Subdivisão do espectro de frequências audíveis

Tempos de delay e seus fenômenos na mixagem para platéia

O som que sai das caixas sofre atrasos (delays) com a distância, então, quando ele bate numa superfície e volta, podem acontecer alguns “fenômenos”:

  1. Abaixo de 7 milésimos de segundo (ms) podem acontecer cancelamentos – como o produzido por dispositivos anti-ruído – ou apenas semi-cancelamentos
  2. A partir de 7 ms, seus ouvidos vão perceber dois sons distintos no espaço, mas não no tempo, seremos capazes de perceber de onde vem um deles, o que chega primeiro
  3. Quando o som e sua reflexão fica entre 10 e 20 ms o ouvido funde os dois sons, mas como a partir de 7 ms percebemos o som que chega primeiro, acontece o efeito Haas
  4. Entre de 20 ms e 80 ms ainda não percebemos a diferença entre os 2 sons como eco, e sim como dobra, e se estivermos entre duas paredes que refletem, acontece o flutter eco (Ex.: John Lennon / John & Yoko)
  5. Acima de 80 ms, sílabas e palavras já serão percebidas como 2 sons, e este é bastante usado tanto em gravações onde é construído como podem ocorrer em igrejas. (Ex.: Us and Them / Pink Floyd)

Aqui podemos dizer que, além dos 3 efeitos principais da mixagem (equalizar, comprimir e pan), começa a entrar na paisagem sonora o delay, tanto bem usado como mal usado.

Em auditórios podemos ver no teto painéis formando ângulos para refletir o som do palco para plateia, de modo que o tempo que um som leva para refletir fique entre 15 e 20 ms, melhorando a audição mas sem que o público perceba a diferença entre a origem e a repetição de vozes e instrumentos.

desenho arquitetônico de um auditório ao lado da foto do ambiente já construído. O desenho destaca as áreas do teto onde o som reflete do palco para a plateia.

Agora vamos a algumas regulagens de equalizador e compressor da mesa (hardware ou software) para os principais instrumentos em uma banda:

Baixo

Compressor = ratio 3:1 / attack medium-fast / release medium-long / threshold – 3/4dB / EQ atenuar entre 200 e 400 Hz

Violão

Compressor = ratio 3:1 /  attack fast / release medium / threshold – 2/3dB / EQ aumente entre 3/5kHz e corte abaixo de 75Hz

Guitarra

Compressor = ratio 4:1 / attack fast / release medium / threshold até 4/6dB / EQ de leve entre 3/4kHz e corte abaixo de 75Hz

Piano

Compressor = ratio 3:1 / attack fast / release medium / threshold 2dB / EQ atenuar em low-mid e aumentar 3/4dB em 4kH e um pouco entre 8/10kHz corte abaixo de 50/75Hz

Vocal (ajustes gerais, cada voz pode precisar de ajustes finos)

Compressor = ratio 3:1 / attack fast / release medium / threshold – 2/3dB / EQ cortar abaixo de 100Hz e aumentar em torno de 4kHz

Bateria

Varia muito. No geral vamos mais uma vez seguir as recomendações do Fábio Henriques para o Equalizador:

Imagem de uma tabela de frequências indicadas para cada tipo de instrumento

A importância da reverberação em uma igreja

Uma igreja tem uma reverberação natural, vinda das reflexões em paredes, teto e piso. Além dos tempos de reverb, que já vimos, existem outros parâmetros a serem considerados: 

Gráfico com o tempo de reverb para cada tipo de ambiente.

Primárias (early reflections): podem existir até em ambientes pequenos, formadas no reflexo do som em áreas próximas à fonte e podem:

  1. Causar cancelamento em tempos próximos de 1 ms (milisegundo)
  2. Piorar a nitidez em tempos com mais de 7 ms
  3. Causar dobras acima de 20 ms
  4. Ecos de fato acima de 80 ms

Falso Reverb: ocorre em ambientes muito pequenos, onde não há tempo suficiente para se caracterizar um reverb. Formam-se, então, reflexões primárias numerosas e com intervalos irregulares.

Distanciamento: mais distante da fonte, o nível do som refletido é relativamente alto entre a fonte e os ouvidos. Guitarras, baterias, vocais e metais precisam de reflexões primárias na mesa para parecerem mais naturais.

Retardo Inicial (ITD): é o tempo entre o som inicial e a primeira das reflexões, que geralmente vem do teto, não afeta muito em ambientes maiores como os de uma igreja.

Pré-Delay: já se aplica a ambientes de igreja e pode ser:

  1. Não percebido = sala muito pequena = até 10 ms (milisegundos)
  2. Quase não percebido/efeito Haas = sala pequena = 10 a 30 ms
  3. Percebido claramente = sala média = 30 a 50 ms
  4. 2 sons percebidos, fonte e reverb = sala grande = mais de 50 ms

Tempo de Reverb: Tempo que o reverb demora para acabar, definido em segundos até que seu som chegue a menos 60 dB do original. É calculado em relação ao volume em metros cúbicos da sala.

Coloração: depende dos materiais de revestimento e móveis da sala e das frequências. Reverb em excesso nas baixas torna a sala “cavernosa” e sua falta em “magra”; excesso nos agudos torna a sala “brilhante” e sua falta em “escura”.

Densidade: instrumentos como bateria, percussão e solos de violão soam melhor em salas de alta densidade, isto é, com menor quantidade de reflexões. Cordas tocadas com arco, sopros de madeira e órgão soam melhor em salas de baixa densidade.

Como podemos notar, o estudo de cada sala, cada igreja, bem como os materiais com os quais foram construídas afetam a mixagem, razão pela qual a mix em ambientes assim demandam maior cuidado do que a mix para monitorar os músicos.

Nosso próximo passo será comparar as duas mixagens e otimizar tanto o som que será ouvido pela platéia, como o som ouvido pelos músicos. 

Foto de um palco de igreja

Conclusão

Como vimos até aqui, mixar para a platéia exige alguns cuidados, e praticamente tudo no ambiente pode atrapalhar o desempenho do som. Portanto, salve este artigo no seu Evernote ou favorite no navegador para ter o guia sempre à mão quando precisar.

Revisar cada ponto é fundamental para que, na hora do culto, você não sofra com problemas inesperados. Também é importante que você compartilhe este material no grupo da igreja e com as outras pessoas envolvidas com o som (banda, músicos, pastores, etc.), quando mais pessoas dominarem as técnicas de áudio, mais fácil será seu trabalho!

Leia também:
Mixagem para monitoração de palco em igrejas
Problemas acústicos com microfonação

Guia do técnico de áudio de igreja

Receba nossas dicas e novidades em seu e-mail!

Nerau