Como usar melhor: mesa de som Yamaha 01v96

A Yamaha 01V é um projeto “antigo” para um console digital, mas, sem dúvidas, quem viveu a transição do console analógico para o digital possivelmente aprendeu nela. Entrando no mercado em 1998, foi uma das primeiras apostas da marca japonesa que desembarcou no Brasil.

A primeira “zero um” (linguagem binária, digital, talvez) ainda tinha 48 KHz de sample rate, passando a 96 KHz na sua versão seguinte, a 01V96, lógico. Passou por 01V96 V2, 01V96 VMC até chegar na “atual” 01V96i. Este “i” possivelmente veio pelo incremento da (i)nterface de áudio que a possibilita servir como um placa de áudio para gravação multipista com 16 entradas e 16 saídas através de uma porta USB 2.0 (16in/16out).

Longe de ser uma console fácil de usar pela época das visuais consoles analógicas, ela começou a ganhar força por conta de sua robustez (que era questionada na época, como todo equipamento digital) e, também, pelas incontáveis ferramentas para o seu tempo. Quem imaginaria ter um compressor ou gate por canal? Processadores de efeitos SPX integrados, então?

O fato é que ela vive até hoje e muitos a consideram um tanque de guerra. Lógico, quando bem cuidadas. Também, por ser um projeto de console digital que acabou sendo utilizado tanto para aplicações ao vivo, como em estúdio. 

Se quiser saber um pouco mais sobre a marca Yamaha, o Mundo da Música fez um breve contexto histórico de suas linhas de produto. Leia aqui!

Mas abaixo vamos discorrer sobre seus principais atributos e forma de melhor utilizá-la.

Principais atributos da 01V96

Não vou falar estritamente da atual 01v96i por dois motivos. Primeiramente, o ponto alto de sua diferença está justamente em ser uma placa de áudio, então, se isso fizer diferença na sua vida, troque sua antiga pela nova. Em segundo lugar, pelo mercado ainda estar inundado destes exemplares que são quase idênticos em funcionalidades. Ou seja, tudo abaixo servirá para todas as 01V’s – com exceção do reduzido número de entradas por expansão da sua primeira versão em 48 Khz.

16 canais de entradas de forma direta (12 XLR com pré-amp e 4 TRS em sinal de linha). Contém oito auxiliares com quatro saídas em conector TRS de forma direta na sua traseira, quatro deles são pré-configurados para até quatro processadores de efeitos. Caso queira usar oito auxiliares, como um console de monitor ou, até mesmo, expandi-la para 24 ou 32 canais de entrada, precisará das placas de expansão MY-8 ou My16 para conectá-las à pré-amplificadores com conversores ADAT (lightpipe) integrados.

O que todo técnico passou a sentir falta no momento que as novas consoles começaram a inundar o mercado de tecnologia foi a ausência de equalizadores gráficos para as saídas (e, às vezes, para insert) amados por muitos, pois ela dispõe somente de equalizadores paramétricos.

Também ouvimos algumas reclamações dos controles dos seu pré-amplificadores (ganho) não serem digitais, pois, desta forma, não podem ser salvos junto com a cena. Mas, convenhamos, ela já fazia (e ainda faz) muita coisa!

Cuidados com os ganhos de entrada

Devido à falta de VU’s indicadores de intensidade de sinal por canal nesta mesa de som, boa parte dos técnicos e operadores a usam sempre com o botão de View pressionado. Isso mostra na tela o nível de todos os canais de entradas e saídas, dependendo da aba selecionada, é claro.

Uma das forma mais comuns é ajustar a visibilidade dos canais de entrada para o modo pré-fader, Isso mostrará o resultado do ganho de entrada e possibilitará calibrar adequadamente o canal (-18 dB). 

Temos que nos atentar, também, à lentidão do sinal em média mostrada pelo VU digital na tela. Um som transiente (em pico) como uma caixa de bateria pode fazer seu canal clipar, acendendo o led vermelho de peak antes de se notar o pico na tela digital. Então, tenha cuidado para não distorcer a entrada antes de conseguir ver isso digitalmente.

Organização do patch de entrada

Quando usamos somente a mesa de som sem suas expansões, o patch (relação entre entrada física de conector e canal da mesa) é praticamente trivial. Ou seja, entradas de 1 a 16 nos canais de 1 a 16. Saída master pelo Main L e R, e saídas de até 4 vias de monitor pelas saídas omni de 1 a 4 no painel traseiro.

Porém, quando usamos suas expansões até o máximo (32 canais de entrada e seus 8 auxiliares como monitores de palco), podemos organizar as saídas e entradas para facilitar a lógica de trabalho:

  1. Conectar todas as saídas do sistema em uma de suas expansões para que a lógica de 1 ao 8 esteja no mesmo equipamento.
  2. Passar as entradas de linha 13, 14, 15 e 16 respectivamente para os canais 29, 30, 31, e 32, ou seja, o final do console. Isso mantém todos os canais com pré-amplificação em sequência.
  3. Tomar o cuidado de sempre ligar entradas e saídas dos cabos ópticos tendo sempre um de reserva. A expansão na 01V não funciona se faltar uma dessas conexões, mesmo que queiramos usar somente entradas ou somente saídas.

Cuidados com configurações personalizadas na console

Estes consoles digitais possuem muitas configurações de usuários – tanto no modo administrator (administrador), quanto guest (convidado). Veja abaixo o que acreditamos ser os mais importantes:

  1. Auto Seleção de canal – ao fazer um mínimo movimento do fader, o sistema seleciona automaticamente o canal tocado. Isso pode ajudar a não esquecer de selecionar o canal em que aumentamos o volume e equalizar outro sem saber. Ponto negativo do uso nesse formato é querer fazer isso!
  2. Pedido de confirmação para Store e Recall – aumenta em um passo a troca e o salvamento de cenas, o que pode ser lento ou chato, mas pode salvar de toque acidental em um desses botões. Acredite, pode ser um problema.
  3. Configuração de user defined keys. Estas são chaves às quais você atribui função. Em um console com uma telinha tão pequena e lotada de funções, uma tecla de atalho pode ser uma boa pedida. Os usos mais comuns são grupos de mute, acesso a processadores de efeitos e tap tempo para efeito de delay (eco).

Fazendo PA e monitor na mesma 01V

Quando estamos usando uma mixagem com menos de 16 canais em uma 01V sem expansão para 24 ou 32 canais, podemos duplicar canais para ter independência de equalização para o PA e para o monitor.

Para isso, mantemos os canais de entrada de 1 a 16 da forma tradicional na primeira página, e replicamos para os canais de 17 a 32 as mesmas entradas de 1 a 17. Assim, teremos, por exemplo, a página 1 a 16 como página de PA e página de 17 a 32 como página de monitor.

Esta dinâmica nos dará maior controle podendo separar compressão, gate,  equalização e, até mesmo, processo de efeitos para o PA e para monitor de acordo com nossas necessidades.

Conclusão sobre a mesa de som Yamaha 01v96

Se a  mesa de som Yamaha 01v96 ainda vale a pena ser adquirida nova, tenho minhas dúvidas. Porém, se você ama esse console, compre-a e use-a. 

Não vamos entrar nos méritos da data de seu lançamento há mais de 20 anos. O fato é que ela ainda está presente em muitos locais e devemos, em respeito a toda sua honrosa vida, saber usá-la em todo seu potencial.

Mesmo que ela venha sumir do mercado amanhã, devemos isso a um equipamento que virou lenda e vai estar na memória de todos que aprenderam áudio digital em frente a ela.

Obrigado, 01V!


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Nerau