Mixagem: um arranjo de frequências

Se você está se vendo diante de uma mesa de som e não faz a menor ideia do que é mixagem, veio ao lugar certo!

Primeiramente, pode ficar calmo que tudo vai dar certo. Mesmo que você não entenda bolhufas sobre trabalhar com som…

Neste artigo você irá conhecer o que é realmente importante em uma mixagem e como evitar as confusões mais comuns que atrapalham os iniciantes.

Mas, antes de começarmos, faça como 1.244 profissionais do áudio e receba dicas exclusivas diretamente no seu email!

O que é Mixagem?

Mixar não é apenas misturar sons das tracks e instrumentos, mas sim fazer um “arranjo de áudio”. Ou seja, arranjar as faixas de frequências para que uma não anule ou atrapalhe a outra.

Muitos iniciantes acham que basta “misturar” um violão e um piano para que sejam ouvidos, mas o que acaba se ouvindo –  por usarem as mesmas faixas de frequências – é um piano ou um violão sozinhos, ainda que o técnico jure que gravou ou mixou os dois.

Temos atualmente várias palavras sendo utilizadas indevidamente no mundo do áudio…

A começar pelo termo “produção musical”, função confundida desde a dos produtores executivos das gravadoras até a dos compositores.

A palavra mixagem também pode ser empregada errado para designar desde o arranjo musical até a composição, esta última entendida por alguns DJs e rappers como a criação de uma obra.

Guia do técnico de áudio de igreja

Então, o que de fato é a mixagem?

Costumo chamar a mixagem (mix) de “arranjo de frequências”, pois se trata da etapa da produção musical feita logo depois da gravação e da edição (correções básicas no áudio, cortes de trechos, etc.).

Dentre inúmeros efeitos de tratamento do áudio gravado, nessa etapa se destaca o uso do trio de processadores físicos (aparelhos) ou virtuais (plug-ins):

  1. equalizadores: aumentam ou diminuem frequências específicas de sons graves, médios e agudos
  2. compressores: reduzem a diferença entre o menor e o maior nível (volume, amplitude) dos sinais de áudio
  3. pans (de panorâmica, paisagem sonora): espalham os sons por esta paisagem sonora, à esquerda, direita ou no meio
foto de um equalizador físico
Equalizador Físico 
imagem de um equalizador virtual, mais conhecido como "plug-in"
Equalizador Plug-in

Há dois tipos básicos de mixagem:

01 – Mixagem para o P.A.

A Mixagem para o P.A. é feita para todas as pessoas presentes diante da banda ou grupo musical na igreja, auditório ou teatro.

Ou seja, ela leva o som da banda ou grupo da melhor forma aos ouvidos dos ouvintes e não para as paredes, tetos ou chão da igreja.

Este tipo de mixagem é chamado de P.A. por serem as iniciais de “Public Address” (direcionado ao público) e, mais recentemente, por line arrays (pilhas de monitores).

Geralmente a P.A. é feita por “caixas de som”, que podem ser monitores de áudio com alto-falantes de todos os tamanhos.

Leia mais sobre mixagem para platéia, neste artigo

02 – Mixagem para Monitorar

A Mixagem para Monitorar é feita para os músicos se ouvirem e ouvirem os outros integrantes da banda ou grupo no palco ou altar.

Pode ser feita por caixas de som e por fones de ouvido, com a finalidade de fazer cada integrante se ouvir sem interferência do PA ou line arrays.

É possível tocar sem monitoração? Sim, como uma pessoa com miopia pode ver sem óculos, ou seja, tudo ficará bem menos nítido.

Mas se estiver dirigindo um veículo, pode colocar em risco de vida os passageiros ao seu lado… e até os pedestres na rua. 

Entenda melhor como é feita a mixagem para monitores.

Nos dois casos é preciso conhecer o comportamento das ondas sonoras (as frequências) que o ouvido humano – um péssimo microfone – ouve.

Já reparou que arquivos de música no formato MP3 são mais de 10 vezes menores do que os de outros formatos? Isso acontece porque o formato elimina frequências que o ouvido deixa passar despercebidas.

Os sons graves são ondas maiores e os agudos menores. Ambas podem ser modificadas por absorção, refração, reflexão e transmissão, da igreja e da platéia.

A mixagem trata de acomodar estes sons diferentes com o objetivo de todos os instrumentos e vozes serem direcionados ao ouvido.

É como fazer uma mala de viagem, acomodando desde os casacos até as meias. Se você simplesmente for empurrando todas as peças de roupa para dentro, pode ser que todas não caibam, mas se organizar por tamanhos cada peça, cabe tudo.

Para isso é necessário conhecer os tamanhos de cada uma…

Observe no desenho 3 as frequências de vários instrumentos musicais.

gráfico exibindo as diferentes frequências geradas por diferentes instrumentos.
Frequências & Instrumentos

Cuidado com a máscara…

Muitos instrumentos têm a mesma frequência, logo, podem ser confundidos por um fenômeno chamado ‘mascaramento’.

Por exemplo, é muito comum uma guitarra ser encoberta por um piano, se um dos volumes dos dois estiver mais alto. Isso nos leva a reconhecer a importância de um bom arranjo musical, antes de ir para a mixagem.

Um conhecido técnico mixador brasileiro – Fábio Henriques – criou a expressão “TTTTT”, para o pior arranjo musical a ser mixado: Todos Tocando Tudo o Tempo Todo. E tem muita banda TTTTT por aí…

No desenho 2 (equalizador plug-in), perceba que existe o mesmo “teclado” musical do desenho 3.

A interface gráfica facilita nossa compreensão do que sejam as frequências e sua correspondência em notas musicais.

Na mixagem, isso deverá ser feito em cada canal, cada instrumento, cada vocal. Em alguns casos, como o da bateria, é preciso mixar primeiro os tambores e pratos entre si, cada um no seu canal, e depois mixar a bateria com o resto da banda ou grupo.

E é justamente sobre os grupos e subgrupos que iremos falar no tópico abaixo!

Grupos e subgrupos

As mesas de som, sejam analógicas ou digitais, oferecem o recurso de subgrupos, onde podem ser conectados os sinais vindos de cada peça da bateria, por exemplo.

Um subgrupo de bateria pode então ter os seus parâmetros de volume e outros por um único fader, comandando então a bateria como um todo, não sendo necessário configurar cada peça separadamente em meio a todos os outros instrumentos da mixagem, mesmo que cada peça atue em frequências diferentes.

foto dos beatles em um estúdio, gravando suas primeiras músicas
Beatles em gravação

Porém, não é somente para a bateria que se usam os subgrupos…

Um conjunto de instrumentos de corda, percussão ou metais também pode ser agrupado em um subgrupo, facilitando o controle do técnico em apresentações ao vivo, ou mesmo economizando canais em uma gravação.

As primeiras gravações dos Beatles foram feitas de forma parecida, usando um gravador de apenas 4 canais. Estes canais eram regravados em um único canal, que entrava novamente em outra tomada de som junto com mais 3 canais restantes.

foto de um gravador de 4 canais

Um pouco de história

Era o recurso do “som sobre som” (sound over sound), dos gravadores de 4 canais Tascam, famosos na última década do século passado.

Na verdade este recurso nasceu nos gravadores de fita de rolo de 2 canais apenas – como os Akai 4000DS – que usavam um recurso parecido que gravava novamente sobre o sinal magnético já gravado, com as desvantagens do desgaste da fita, e a consequente perda de qualidade do resultado final da “mixagem” produzida então.

foto de um Akai 4000DS

Desde 2014 um grupo de engenheiros de áudio da AES Brasil (Audio Engineering Society) estuda uma grade curricular para os cursos de áudio.

Com isso, chegaram à conclusão de que o técnico de áudio deve conhecer matérias de música e o músico matérias de áudio. A cada dia a ideia cresce na prática, pois se trata do mesmo objetivo: criar, produzir e compor música.

Passando pela etapas de gravação, edição, mixagem e finalização de cada obra: Músicos técnicos e técnicos músicos cada vez mais aparecem no cenário.

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Nerau