Qual é a melhor madeira para violão?

Certo dia, enquanto assistia ao vídeo de um luthier, construindo seu próprio violão, percebi que as ferramentas que ele usava não estavam muito distantes das que eu tinha disponíveis em casa. Sempre curti música e trabalhar com madeira, então, por que não juntar esses dois hobbies e construir um violão?

A ideia de fazer meu próprio instrumento me animou, pois poderia construí-lo do jeito que eu quisesse. Também, poderia combinar as características que achava interessantes em diferentes marcas e modelos (obviamente, respeitando minhas habilidades com madeira, que não são muitas). Foi aí que busquei conhecer mais sobre o instrumento, assistindo inúmeros reviews no YouTube, a fim de entender como cada diferença na construção afetava na sonoridade e resultado final do violão.    

Confesso que o processo foi mais trabalhoso e demorado do que imaginei que seria. Acabei descobrindo que, na verdade, minhas ferramentas estavam bem longe das do luthier do vídeo. Porém, não tive pressa, pois o processo foi tão prazeroso quanto o resultado.

Processo de colagem das estruturas internas do tampo do violão
Processo de colagem das estruturas internas do tampo do violão

Após um ano e meio, eu estava com um instrumento feito sob medida, pelas minhas próprias mãos e com as características de construção e sonoridade que mais me agradavam.

Mais detalhes de como construí o violão ficarão para um próximo post, pois minha ideia com este texto é explicar um pouco sobre como a escolha da madeira correta para o seu violão influenciará na sua experiência com o instrumento. 

Madeira para violão
Meu violão já pronto!

Como o violão funciona?

Antes de começarmos, é importante entender o básico do funcionamento da mecânica do violão. 

Para que o som “saia dos seus dedos” e chegue até o seu ouvido, há um caminho que a energia, em forma de vibração, precisa percorrer.

Ao tocar, seus dedos transferem energia para a corda, fazendo com que ela vibre em determinada frequência. A corda, por sua vez, transfere essa energia para o tampo, fazendo-o vibrar na mesma frequência. O tampo e corpo do violão têm o papel de amplificar essa vibração e transformá-la no som que ouvimos quando sai da boca do violão.

Um violão bem construído não irá desperdiçar energia durante o processo, transformando em som o máximo possível da força aplicada pelo músico.

Cordas vibrando

Como a madeira influencia na qualidade do som?

Cada madeira vibra mais em algumas frequências do que outras, variando de acordo com sua densidade e estrutura. Essa característica física faz com que cada violão tenha um som único, visto que a natureza nunca irá produzir duas peças de madeira exatamente iguais.

Existem madeiras com as mais variadas características. Temos madeiras leves e macias, a ponto de serem facilmente amassadas com a unha, ou tão duras e pesadas, que martelar um prego nelas se torna uma atividade praticamente impossível.

No entanto, existem alguns limites para a utilização de madeiras em violões. No tampo, por exemplo, as muito macias e frágeis não irão suportar a tensão das cordas (que, em violões de aço, pode chegar a 80 kg) e madeiras extremamente duras e pesadas não irão vibrar com tanta facilidade, “matando” o som do instrumento.

Mas, então, qual é a melhor madeira para violões? Cada parte do violão irá necessitar de uma madeira com qualidades específicas, porém, a resposta definitiva irá variar de acordo com a sonoridade e aplicação desejada pelo músico.

Inclusive, o Antonio Tessarin, um dos luthiers mais famosos do Brasil, já construiu um violão usando papelão!

Madeira do Tampo

Esta é a madeira que tem a maior parcela de influência no som do instrumento, já que é o tampo que transforma a energia da vibração das cordas em som.

Vale lembrar que, além da madeira, o tipo de acabamento (verniz, goma laca, óleo, cera, tinta…) também irá influenciar na sonoridade final do instrumento.

Qual é a diferença entre tampos com madeiras claras e madeiras escuras? 

Em geral, madeiras mais claras são mais macias e leves, e reproduzem com mais facilidade as frequências mais graves, dando um som mais aveludado e flat para o instrumento. Também têm uma boa resposta, quando o instrumento for tocado dedilhado ou com menos força, pois não necessitam de tanta energia para vibrar.

Tampo em Abeto
Tampo em Abeto

Em sua maioria, vêm de regiões de clima frio como América do Norte e Europa. Os exemplos mais comuns são: abeto alemão, abeto de Sitka (Alasca) e cedro canadense.

Já as madeiras escuras são mais duras e pesadas, e produzem uma riqueza maior nas frequências médias e agudas, tendo um som mais orgânico. Tampos com essa madeira aguentam mais pancada e entregarão um volume mais alto, quando tocados com mais força e intensidade.

Tampo em mogno
Tampo em mogno

O maior exemplo de madeira escura utilizada em tampos é o mogno (mahogany). Muito usada em violões, é uma madeira de clima mais tropical, sendo encontrada principalmente aqui no Brasil e na África.

Madeira do Corpo (Laterais e Fundo)

Nas laterais e fundo, encontramos a maior variedade de espécies de madeiras e de preços. Temos as “madeiras de grife”, cujos conjuntos para laterais e fundo podem chegar a 6 mil dólares! Os preços mais altos são para as madeiras de árvores raras e em risco de extinção, que tiveram seu corte proibido, portanto, só é comercializado o que restou de lotes cortados antes da proibição, ou de árvores que caem de forma natural.

Cocobolo, uma das Madeiras de Grife
Cocobolo, uma das Madeiras de Grife

Exemplos de madeiras para o corpo: jacarandá, mogno, koa, maple, cocobolo, nogueira, pau ferro, dentre outros.

Corpo Inteiro em Koa
Corpo Inteiro em Koa

A melhor madeira do mundo?

No Brasil, temos a madeira que é considerada o Santo Graal das madeiras para violões! Há muito conflito quando se debate qual seria a madeira ideal, mas não há discussão quando se fala do Jacarandá brasileiro (Brazilian Rosewood). Amados tanto por luthiers, quanto por violonistas, além de serem muito bonitos, os violões com essa madeira possuem graves ricos e profundos, agudos bem definidos e médios bem distribuídos. 

Jacarandá Brasileiro
Jacarandá Brasileiro

Infelizmente, hoje está ameaçada de extinção, ou seja, tem seu corte proibido. Não chega ao preço mencionado acima, mas pode salgar consideravelmente o preço do violão. Há algumas espécies de jacarandá africano e indiano que são alternativas mais em conta.

Madeira do Braço

No braço, o principal requisito é uma madeira rígida e estável. Não queremos que a tensão das cordas acabe entortando o braço do violão, certo? Portanto, são utilizadas madeiras que já foram cortadas há um certo tempo (no mínimo, um ano) para terem tempo de secar completamente.

A madeira mais utilizada é o mogno. Outras madeiras, como maple e jacarandá, são mais comumente encontradas em braços de guitarras e baixos.

Madeira da Escala

Na escala, é necessária uma madeira mais rígida, pois terá muito atrito com as cordas e dedos do músico. Quase sempre será usada a mesma madeira no cavalete (ponte).

Normalmente bem escuras, as madeiras mais comuns são ébano, jacarandá e pau ferro.

Madeira Maciça x Laminada

Maciça

Como o nome já diz, madeira maciça se trata de um peça de madeira que é inteiramente de um mesmo pedaço do tronco da árvore.

Como qualquer objeto feito com madeira maciça, violões com essa madeira serão mais caros, tanto pelo preço da madeira em si, quanto pela dificuldade maior de se trabalhar com este tipo de madeira.

A recompensa pelo preço virá na qualidade sonora. Este tipo de madeira irá reproduzir melhor todas as frequências em geral, principalmente as mais graves, resultando em um som mais natural e orgânico.

Laminada

Já a laminada se trata de duas ou mais “folhas” de madeira coladas, muito semelhante à madeira compensada que encontramos em qualquer loja de materiais de construção.

O maior ponto a favor da madeira laminada vai ser seu custo-benefício. Violões com essa madeira são mais baratos e a diferença no som, principalmente nas madeiras do corpo, será dificilmente percebida por músicos não tão experientes.

Também oferece a possibilidade de termos instrumentos esteticamente bonitos com preços baixos, pois pode-se usar uma madeira com boas características estruturais, porém, barata no lado interior do instrumento e, no exterior, utilizar uma fina camada de uma “madeira de grife”.

Em termo de som, a madeira laminada irá reproduzir os graves e volume em geral com menos intensidade.

Como identificar

Olhe através da boca do seu violão e compare a madeira que se vê no interior com a do exterior do instrumento, prestando bastante atenção no padrão dos veios da madeira. Se as madeiras forem diferentes, será laminado. Caso contrário, será maciço.

Conclusão

Aqui no Mundo da Música, sempre dizemos que não existe equipamento certo nem errado. Há, no entanto, aquele que mais se aplica ao seu estilo e necessidade como músico. Espero que, através deste texto, você possa conhecer melhor o instrumento que você atualmente tem, e ter informação suficiente para eventualmente adquirir, ou quem sabe até construir, o instrumento que se encaixe melhor com o seu perfil.

Escrito pelo munder Gabriel Cesa.


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