Como montar um kit de som para igreja

Sua dúvida é sobre equipamentos mínimos para um kit de som para igreja?

Como trabalho com áudio profissional há muitos anos, durante esse tempo foram incontáveis os contatos que chegaram até mim com a seguinte fala: “Carlos, estou querendo montar um sistema de som para igreja, ou preciso montar um kit de som para uma igreja com 50, 100, 200, 500, 1000 pessoas. O que eu compro?”

Minha resposta sempre é: “tu tens um tempo?”

Gente, não é muito complicado. Verdade! Porém, para essa tarefa ser bem feita, temos que elencar vários pontos para que nossa decisão seja baseada em mais que um único parâmetro ou necessidade. Isso fará sua compra ser mais acertada por garantir que contemple tudo que precisa, com a melhor relação custo-benefício possível.

Neste texto, tocaremos nos principais pontos que deverão ser levados em consideração para a aquisição de um sistema para uma igreja pequena, média ou grande, com racionalidade. Sabendo construir esse sistema e usá-lo com sabedoria, ele terá longa vida e, com isso, “se pagará”.

Montar um sistema de som tem a mesma lógica de áudio para uma pequena igreja e para um grande show em um estádio lotado. A quantidade de equipamentos e de processos que leva o som do microfone aos alto-falantes é um pouco maior, mas não é diferente em essência. Abaixo, discutiremos o que observar para garantir a melhor compra de nosso sistema.

Guia do técnico de áudio de igreja

Tamanho da igreja

Essa compra  costuma nos parecer mais fácil em um sistema pequeno Porém, é justamente nas igrejas menores que tendemos a ter os gastos mais contidos. Então, torna-se fundamental que esse investimento seja bem feito.

Uma igreja pequena costuma não sofrer muito com problemas acústicos, pelo menos no que diz respeito ao condicionamento acústico, inclusive pela proximidade entre o ouvinte e a caixa acústica. Ufa! Um problema a menos. Isso garante que, um bom par de caixas acústicas, ativas ou passivas com amplificador já será suficiente – dispensando até uso de algum tipo de subwoofer.

O Background da sala

Aqui, começamos a pensar na quantidade de caixas acústicas a ser utilizada. Para uma igreja média ou grande, parece óbvio  colocarmos uma porção de caixas espalhadas pelo ambiente para que todos escutem com o mesmo “volume”. Isso pode ser um grande “tiro no pé”. Sem dúvidas, o volume ficará mais homogêneo com múltiplas caixas, mas a inteligibilidade cairá muito se não as posicionarmos de forma a escutar poucas fontes simultaneamente. Em igrejas grandes e reverberantes, o caos será instaurado.

Ah! Já ia esquecendo: o Background (BG)! Ele é o nível de ruído de fundo durante o culto. Podem ser: uma janela ou porta aberta, trânsito da rua, ruído de conversinhas paralelas ao culto, ruído de ar condicionado, ruído de ventiladores ou qualquer outro barulho que venha atrapalhar o entendimento da palavra dita pelo padre ou pastor.

Com isso, teremos que usar um sistema que garanta um nível de pressão sonora (o volume) satisfatório para que a pessoa mais distante das caixas acústicas  entenda o que foi dito com facilidade. Costuma-se usar uma diferença de 10 dB entre o BG e o volume da fala como referência. É difícil encarar isso como uma regra, mas o conceito pode ser útil.

Acústica local

Talvez a acústica do local seja o fator mais determinante para a qualidade geral do som de um ambiente – neste caso mais específico, de templos religiosos. Entretanto, eu entendo que é bem difícil se convencer e, principalmente, convencer as pessoas disso.

Uma acústica controlada – tanto em isolamento, quanto em condicionamento acústico – possivelmente reduzirá seu investimento no kit de som para igreja, para obtenção da qualidade desejada. Esse controle trará uma necessidade de menor pressão sonora para a palavra ser entendida, o que ajuda no isolamento acústico por evitar vazamentos sonoros e possíveis problemas com vizinhos. Isso, sem falar no conforto acústico das pessoas que passarão a ouvir tudo sem o tumulto gerado pela reverberação exagerada desses locais, função executada por um bom condicionamento acústico.

Outro item ao qual devemos prestar atenção é o louvor. O local em que a banda se encontra está tratado adequadamente? Deveria. Usam como retorno fones de ouvido ou caixas acústicas? Quanto menor a intensidade sonora vinda de lá, melhor!

Tipo de louvor

Violão e voz ou heavy metal gospel? Isso muda por completo o planejamento de um kit de som para igrejas: dos canais de entrada e quantidade de auxiliares na mesa de som para os integrantes da banda, número de microfones necessários, à quantidade potência acústica aplicada na igreja. Tudo isso tem que ser levado em consideração no momento de projetarmos o sistema para sonorização.

Por exemplo: teremos bateria (bumbo) ou contrabaixo no louvor? Não? Então, possivelmente não precisaremos de subwoofers no sistema. Sim? O subwoofers passam a ser convenientes para evitar o trabalho excessivo das caixas de médios e agudos com frequências que elas têm dificuldade em reproduzir.

Assim sendo, precisamos entender que as entradas de sinais no sistema servirão para avaliar as necessidades a respeito do range de frequência que ele precisará reproduzir, assim como sua intensidade sonora.

Quais microfones usar num kit de som para igreja?

Encare este item como a fonte de qualidade de captação do sinal sonoro para transformação em um sinal de áudio. Então, parece importante não é?

Cabe aqui comentar que qualidade de som não tem média. A qualidade de seu som será determinada pelo ponto mais fraco de seu sistema. Falo isso por ver alguns investindo o que não se tem de dinheiro para a compra de um console (mesa de som) e comprando com os trocados o resto dos equipamentos. Errou feio, errou rude!

Se for necessário investimento em sistemas sem fio, sinto lhe informar, a tarefa piora drasticamente. Caso queiras saber mais sobre o uso de sistemas com fio e sem fio, veja este texto voltado ao tema.

Microfones têm parâmetros importantes a serem seguidos que refletirão na compra correta, mas um parâmetro fundamental para a montagem de um kit de som para igreja, certamente, será o preço. Temos boas opções de entrada no mercado, mas não queira exigir desempenho igual ao dos microfones de custo mais elevado que estão consolidados no mercado há décadas. É claro que um microfone de R$ 100,00 vai ter sonoridade diferente e, talvez, durar bem menos do que aquele que custou R$ 1.000,00.

Pesquise o microfone por seu uso, evitando usá-lo para aquilo que não foi projetado. Isso fará dele um microfone ruim para seus ouvidos, mesmo que seja um bom equipamento. Outra coisa importante: ouça! O microfone que soa bem para minha voz não necessariamente soará bem para sua. Cada equipamento tem suas características, e isso é muito bom, acredite.

Qual é a melhor mesa de som para igreja?

Analógico ou digital? É sempre a primeira pergunta! Um sistema de caixas acústicas simples e com boa sonoridade junto com um console analógico estão de bom tamanho para kit de som para igreja. Se analisarmos o fato de já termos bom som e pouca necessidades de canais de entrada para um sistema pequeno, restaria pouca intervenção a ser feita. Então, poderíamos resolver com analógico mesmo.

Sua situação não se enquadra no parágrafo acima? Com toda a certeza, escolha digital! A quantidade de ferramentas e possibilidades que essa tecnologia nos traz será muito benéfica quando as coisas não derem muito certo na mixagem.

Só temos que ficar atento a uma coisa: ”grandes poderes trazem grandes responsabilidades”, parafraseando o Tio Ben do Homem-Aranha. Ter essas ferramentas ao alcance de nossas mãos traz a consequência de saber usá-las. Já ouvi muita gente falando que “mixa melhor” em console analógico. Será que o problema é o console?

Primeiramente, contabilize o número de canais de entrada, quantidade de vias auxiliares para retornos de palco e efeitos. Sei que temos uma gama de possibilidades muito grande de marcas e modelos de mesas de som se pensarmos só nisso. Entretanto, se tivermos um sistema equilibrado, definitivamente um console que atenda a essa demanda será suficiente para você.

Por exemplo: tenho microfones, instrumentos musicais e outros sinais de áudio, totalizando 12 canais. Escolha uma mesa de 16 canais para ter uma sobra. Se forem 16 ou 18 canais contabilizados, compre uma mesa de 24 canais.

Claro que um maior o investimento em um console com boas ferramentas sempre vai trazer facilidade de resolver problemas em sua mixagem no futuro. Caso precise saber um pouco mais sobre esse equipamento, veja aqui um material especial sobre o assunto.

Quais caixas acústicas escolher em um kit de som para igreja?

Para sistemas de PA ou de Monitor (Retorno) cabe perguntar: passiva ou ativa? Mais uma das séries de perguntas respondidas com um sonoro e inconclusivo: “depende”.

Você consegue colocar os amplificadores próximos às caixas acústicas para não precisar de cabos quilométricos? Pode ser caixa passiva.

A posição que elas ficam estão ao alcance das mãos? Pode ser caixa ativa.

O que precisa ficar bem claro é que, inicialmente, uma caixa acústica não foi feita para substituir a outra, mas para maior comodidade. Isso inclui dimensões para transporte mais fácil, peso, velocidade de montagem, posicionamento, gestão de cabeamento de energia e de áudio, entre outras características. Logo, escolha de acordo com sua conveniência.

A resposta de frequência do sistema deverá ser coerente com os sinais que entrarão na mesa. Esse assunto já foi tocado mais acima no texto, mas cabe ressaltar que sua caixa acústica tem que estar preparada para tocar o que entra na mesa. Meio óbvio, não?

Assim, a pressão sonora esperada desta caixa acústica deverá estar de acordo com as necessidades do ouvinte mais distante atribuído a ela. Se isso não estiver adequado, precisaremos de mais caixas. O excesso de volume sem muito controle possivelmente causará distorção, com isso, perderemos parte da inteligibilidade e tendemos a aumentar o volume para poder ouvir mais, o que aumenta a distorção. É o cachorro correndo atrás de seu próprio rabo!

Cuidado com o uso de Sistemas Line ou comumente chamados de Line Arrays. Dependendo da acústica, tamanho ou posicionamento de sua sala, esses equipamentos podem ser uma opção ruim.

Relação entre marcas e modelos de equipamentos

Já tocamos neste assunto em vários momentos mais acima. Som não tem média. Por menor que seja a sua necessidade, faça um projeto que não exija se  desfazer de coisas para colocar outras no lugar.

Sei que é difícil, mas não tenha muito apego a marcas e modelos, já que eles tentam entregar a mesma coisa em formas e linhas de produto diferentes. É lógico que, com o passar do tempo e com nossas experiências, escolhemos algum produto ao invés de outro. Isso é natural.

Todavia, essa mesma experiência nos diz que temos que ter sabedoria nas comparações que fazemos, seja por parâmetros técnicos ou por quantas parcelas…

Quando sabemos o que estamos comprando, é difícil existir no mercado um equipamento que “vale” menos do que o outro. Pergunte-se: vou retornar em qualidade ou facilidade o dinheiro que investi neste equipamento que adquiri? Se a resposta for sim, tudo certo. Se a resposta for não, não é o que você deve comprar. Simples.

Juntando tudo!

É, talvez tenhamos ido muito além do que o título prometia: equipamentos mínimos para um kit de som de igreja. Porém, acho que posso resumir o que seria um kit mínimo assim:

  • Caixas acústicas de acordo com o tamanho da igreja.
  • Mesa de som com número de entradas compatível com instrumentos, microfones e sinais de áudio que deverão ser enviados para as caixas. Número de saídas compatível com seu sistema e quantidade de caixas de retorno a serem utilizadas.
  • Microfone conforme instrumentos e vozes a serem captados. Um bom kit de microfone de bateria sempre ajuda.
  • Um microfone sem fio para dar mobilidade ao orador.
  • Pedestais de acordo com a necessidade.
  • Direct boxes para entrada e instrumentos de linha ou não balanceados.
  • Cabos de áudio sempre com sobras de tamanho e quantidade. Nunca se sabe quando algum falhará.
  • Cabos de energia de acordo com o consumo dos equipamentos. Atenção maior aos amplificadores e/ou caixas amplificadas.

Eu sei que fui genérico, mas acho imprudentefazer uma lista com marcas e modelos e usá-los sempre em qualquer ocasião.

Tenho certeza de que você tomará uma decisão acertada por cada minuto que despender pensando em como vai ser o uso do seu sistema. Tente prever os problemas e adquirir o sistema que os minimize.

O Mundo da Música está aqui para fazer você comprar certo e com inteligência. Isso é o que mais nos importa: que você use este lugar como fonte de informação.

A construção de um sistema é um conjunto de decisões que devem ser tomadas com um olhar no todo. É fácil cair no erro quando tentamos simplificar demais o processo de compra. Ser complexo não significa ser difícil. Tudo vai depender do que sabemos a respeito – e, quanto mais, melhor!

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Nerau