Humberto Dantas: áudio na vida e na igreja

A qualidade dos trabalho realizados por profissionais de áudio nas igrejas do Brasil tem crescido muitos nos últimos anos. Com a pandemia de Covid-19, muitas congregações buscam a ajuda de técnicos para a realização de cultos online, uma opção que tem gerado resultados muito positivos. 

Entretanto, isso só se tornou possível com a ajuda de diversos profissionais espalhados pelo país que, diariamente, realizam trabalhos e consultorias nos mais diversos segmentos religiosos. Um deles é Humberto Dantas, produtor fonográfico, consultor e técnico de áudio profissional que já atua no segmento há mais de 10 anos.

Em entrevista para o Mundo da Música, Humberto Dantas, responsável técnico na Zion Church e em projetos como o Fornalha Tour e o The Send, comentou sobre sua trajetória profissional, suas relações com a igreja, seus projetos e, também sobre os desafios e realidades dos técnicos de som e das congregações no Brasil. 

Início da carreira

A relação de Humberto com música e áudio veio desde cedo. Instrumentista desde a infância, foi com 15 anos que fez o seu primeiro curso de produção musical eletrônica e mixagem. Sempre interessado, após a formatura no ensino médio ingressou na faculdade de Rádio e TV em 2006 com o objetivo de aprender mais sobre a área.

Após dois anos de faculdade, Humberto decidiu focar mais em seus estudos sobre produção musical e iniciou o curso de Fundamentos de Áudio e Acústica no Instituto de Áudio e Vídeo (IAV) em São Paulo.

“Fiz esse curso no IAV quando eu tinha 19 anos e recomendo. Um ano antes, ainda em meu primeiro ano de faculdade de Rádio e TV, comecei a trabalhar na parte de áudio de um estúdio de fotos e filmes. Só comecei a trabalhar realmente com produção musical após iniciar meu curso da IAV. A sensação foi totalmente diferente e eu nunca mais parei”, conta Humberto.

Após sua primeira experiência na área de produção musical, Humberto seguiu adiante em sua busca por trabalhos na área de áudio. Assim, a primeira grande oportunidade surgiu em 2007 na produtora Friends, estúdio musical focado em campanhas publicitárias. “Lá, a gente fazia jingles e trilhas sonoras. Fiquei de 5 a 6 anos fazendo campanhas publicitárias para grandes empresas como Vivo, Itaú, Ponto Frio e MCDonald’s”, explica Humberto.

O primeiro contato com a igreja

Filho de pastor, Humberto sempre teve contato direto com as igrejas cristãs. Certo dia, enquanto trabalhava em uma empresa de sonorização ao vivo, conheceu Rica, produtor do grupo gospel Livres. “A gente começou a bater um papo e fui convidado a entrar para a banda como técnico de som. Na época (2009), a banda estava começando a estourar. A novidade era bacana e não parecia com nada que eu já tinha feito”, relembra. 

Um ano após o início da parceria, em 2009, Humberto realizou a primeira conferência junto ao Livres na inauguração do espaço Bola de Neve, em São Paulo. Apesar do grande desafio, o festival, segundo ele, rendeu frutos para o anos seguintes. “Com esse festival, eu me aproximei bastante da banda e fiz vários freelas até 2012. Até que, no meio daquele ano, eles me chamaram para ser o técnico fixo deles. Eu estava bem cansado de estúdio e publicidade, e embarquei nessa”, conta Humberto.

Ao longo de três anos ao lado do Livres, Humberto Dantas viu de perto o crescimento da banda. Participou da produção de 2 CD’s e um DVD, o técnico de áudio chegou a acompanhar o grupo em mais de 200 shows só em 2014. Nessa época, a banda, que já estava estourada, realizou um tour internacional em diversos países da Ásia. 

Início do estúdio e projetos

Cansado por conta do longo período na estrada, Humberto decidiu retornar aos estúdios, mas, desta vez, para o seu próprio. Os anos de viagem lhe proporcionaram uma enorme bagagem de contatos e, com isso, ele passou a desenvolver trabalhos para diversos artistas do segmento gospel, como Leonardo Gonçalves, Baruk, Marcos Almeida, Laura Souguellis, Gabriel Guedes, Os Arrais, entre outros. 

“Desde quando saí do Livres, venho tocando projetos no meu estúdio. Fui contratado como responsável técnico da Zion Church e respondo por toda a parte de áudios das igrejas, tanto as de São Paulo e Recife quanto nas de fora, com em Quito (Equador) e Lisboa (Portugal)”, completa Humberto.

Em 2017 iniciou a parceria com o grupo Dunamis Music para a realização de conferências e projetos como o Fornalha Tour e o The Send Brasil. De acordo com Humberto, trabalhar ao lado do grupo foi uma das experiências mais marcantes da carreira. “Fiquei chocado em como eu consegui fazer o que eu mais queria porque eles acreditaram no que eu pedi em termos de equipamentos e pessoal. A gente fez uma conferência linda, sem nenhum erro técnico. Isso, pra mim, foi um choque de realidade”, afirma.

Com a primeira edição no Brasil em 2020, o movimento missionário The Send reuniu milhares de pessoas em três estádios com o objetivo de levar o evangelho para o máximo de lugares. Responsável técnico de áudio do evento, Humberto comenta que o meio cristão tem se tornando cada vez mais capacitado para a realização de ações como esta.

“Realizamos o The Send Brasil junto a mais de 55 profissionais e com equipamentos próprios, e não tivemos um erro técnico sequer. No mercado cristão, o cara que faz o som apaga a luz e liga o ventilador. Mas eu vejo que o mercado está se profissionalizando, indo para esse lado de buscar a excelência”, comenta Humberto. 

Os principais desafios das igrejas

Com mais de 10 anos de experiência na área, Humberto conta que o maior desafio das igrejas sempre foi a falta de profissionalismo. Segundo ele, ainda faltam capacitações não apenas para o técnicos, mas para todos os integrantes da igreja. 

“Apesar do crescimento nos últimos anos, ainda é muito difícil encontrar técnicos de igreja que realmente tenham o conhecimento necessário para resolver problemas do cotidiano. Seja o técnico de som, a equipe, os músicos ou o próprio pastor”, explica.

Ainda segundo ele, mesmo que você seja apenas voluntário de uma igreja e não trabalhe diretamente com áudio, é importante entender o básico. “Isso permitirá que você tenha mais autoridade na hora de resolver perrengues. Não importa a igreja, se você é técnico de som, certamente passará por problemas assim”, endossa. 

Outro desafio das igrejas é a precariedade dos equipamentos. Segundo Humberto, é preciso entender quais são as necessidades da igreja na hora de investir em melhorias. “Busque um pouco de informação e, com isso, trace um plano de melhoria de equipamento e tente conversar com os líderes da igreja para que isso seja factível. Não adianta sonhar com equipamentos caros, se sua igreja comporta apenas 30 pessoas”, afirma.

Opções para se profissionalizar

Nem toda igreja conta com técnicos de som capacitados. Muitas vezes, essas pessoas atuam em outras áreas e auxiliam suas igrejas de maneira voluntária. Com o objetivo de atender a essas pessoas, Humberto lançará  ainda esse ano um curso focado em capacitar voluntários para essa função. 

Segundo ele, atualmente, o mercado disponibiliza apenas cursos para quem deseja se tornar profissional na área, e essa não é a realidade das igrejas. “Meu curso servirá justamente para esse público que não quer saber sobre a frequência do bumbo, mas que apenas quer tirar um som bacana nas apresentações”, comenta.

Outra alternativa interessante para quem deseja entender melhor sobre áudio para igrejas é acompanhar canais que disponibilizam conteúdos úteis. Entre os dia 25 e 29 de maio, o Mundo da Música realizou a Semana da Igreja ao Vivo, uma ação com o objetivo de capacitar técnicos de som de igrejas sobre a transmissão de cultos ao vivo e esclarecer as dúvidas mais comuns sobre o assunto.

Responsável por ministrar a live na Semana da Igreja ao Vivo “Culto online, ao vivo e com banda: cuidados, equipe e equipamentos”, Humberto conta que hoje a demanda por transmissões ao vivo em igrejas é uma das principais tendências para o meio cristão. Veja abaixo!

“As pessoas estão muito preocupadas com essa demanda online, porém, muitas acham que isso não terá o mesmo ritmo após o fim das medidas de distanciamento social. Eu não concordo com isso, porque em todas as experiências que eu tive em consultorias ou participações em cultos online, em todas as igrejas falaram que o número de acessos é muito maior que o número de participantes em cultos presenciais. Na Zion Church, por exemplo, a gente tem 3000 acessos simultâneos e na igreja cabem 300 pessoas, ou seja, 10% do presencial”, explica.

De acordo com Humberto, anteriormente o culto presencial era a única opção, mas, com as crescente de transmissões, essa realidade se transformou completamente. “O culto presencial era o plano A e o online era o B, mas agora é contrário. Em uma consultoria para uma igreja, propus que eles fizessem um culto online montando a igreja como um estúdio, de maneira que a cerimônia atendesse tanto aos espectadores presenciais, quanto os online”, finaliza.


Leia mais:

Receba nossas dicas e novidades em seu e-mail!

Nerau