Como escrever uma música: Dicas para compositores iniciantes

Quer saber como escrever uma música e não tem ideia por onde começar? Já compôs algumas músicas, mas gostaria de aprimorar o seu processo criativo? Este guia rápido vai ajudar você a encontrar a sua própria forma de compor ou, no mínimo, inspirar a finalmente transformar aquela ideia na sua cabeça em uma música completa.

Primeiramente, e nos perdoem pelo clichê, mas não existe receita de bolo na hora de escrever uma música. Todo e qualquer compositor descreve seu processo de maneira única, e não poderia ser diferente.

Se compararmos a música com outros tipos de arte, como artes plásticas, por exemplo, cada pintor terá uma técnica diferente, uma paleta característica, um traço próprio que o diferencia de qualquer outro artista. A arte de criar melodias e harmonias segue a mesma lógica, e todos podem, e talvez devam, buscar a sua própria forma de criação. 

Mas, por onde começar? Bom, que tal começarmos pelo básico da teoria musical para esclarecer alguns pontos antes de nos aprofundarmos?

Antes de tudo, saiba que a teoria musical não é algo que limita a criatividade como alguns dizem, pois isso vai depender exclusivamente de você. Ela somente fornece ferramentas para se chegar a um resultado desejado de forma mais eficiente e, muitas vezes, mais precisa e harmoniosa (e divertida também).

Mas caso você já tenha uma boa noção de teoria, sinta-se à vontade para pular esta parte e avançar aqui.

Como escrever uma música com teoria musical

Com tantos blogs e informações disponíveis online hoje, muitas vezes não encontramos um texto ou vídeo na medida certa sobre este assunto. Ou seja, eles podem ser muito genéricos agregando pouco valor, ou muito técnicos que nos fazem perder a esperança nas nossas capacidades intelectuais.

Portanto, sim, a teoria musical pode ser bem intimidadora a princípio, e o nosso objetivo é responder à sua pergunta “Tá, mas como que eu uso isso para escrever a minha música?”. Então, vamos definir alguns termos e como eles podem ser usados no seu processo de composição.

Melodia

É basicamente um grupo de notas tocadas em sequência, produzidas pela voz ou por qualquer instrumento com tonalidade definida. Para ser mais claro, se você assoviar aquela música que não sai da sua cabeça, você estará reproduzindo uma melodia.

A melodia é um ótimo começo para o seu processo de composição. Aliás, muitas canções famosas tiveram origem em uma breve série de notas na cabeça do músico, ou seja, numa ideia pequena que depois se transformou numa obra completa. Esse cenário é o mais comum e, se você estiver nessa mesma situação, vamos ajudar.

Nesse sentido, se você criou uma melodia no seu instrumento, ou até mesmo dentro da sua cabeça, e não conseguiu ir além disso no processo de criação, temos que buscar algumas informações analisando essa série de notas que você criou. Por exemplo: qual é a escala ou tonalidade em que ela se encaixa?

Isso será importante para definir os acordes ou acompanhamentos que serão usados em conjunto com a melodia. Mas, um passo de cada vez, explicaremos melhor em seguida.

Escala

Escala é a sequência das notas (melódicas) incluídas na tonalidade. Existem diversos tipos de escalas, sendo que as mais comuns são as maiores e as menores. Assim, a melodia dentro da sua cabeça provavelmente se encaixa em uma dessas alternativas.

E o que a escala tem a ver com a sua composição? Tudo! Definindo a escala da sua melodia é possível definir os acordes que servirão como base para a sua música.

Não entraremos em detalhes aqui, mas, tentando resumir bastante, indicamos duas formas rápidas e práticas de encontrar a escala / tonalidade da sua melodia. Veja a seguir.

A nota inicial e final da melodia

Se a sua melodia soa como se tivesse começo e fim, ou seja, se parece que ela “chegou onde deveria ter chegado”, é bem provável que a última nota tocada ou cantada é a que dá nome à tonalidade na qual ela se encaixa.

Por exemplo, a última nota sendo Mi, a sua melodia poderá estar na escala de Mi Maior ou de Mi Menor. A primeira sendo geralmente descrita como mais “alegre”, e a última como “triste”, uma generalização que funciona como uma boa referência inicial. 

Entretanto, caso o fim da sua melodia não soe como o encerramento da música, você pode ainda improvisar, continuar cantando ou tocando, sem sair da tonalidade, até encontrar a nota que aparenta finalizar a canção.

Analisar as notas tocadas x escalas existentes

Seguiu a dica acima e não tem certeza absoluta de qual é a escala? Então, ouça a melodia e, com o auxílio do seu instrumento, anote as notas tocadas uma por uma. Todas elas, provavelmente, farão parte da tonalidade, então será só uma questão de descobrir qual escala possui essas notas específicas. 

Mas, não precisa decorar nenhuma escala para descobrir isso, uma busca simples no Google já resolve. Exemplo: Buscando “Escala de Fá Maior” te entregará essa informação mastigada. Então, você pode consultar uma tabela mais completa com a lista de todas as escalas e as notas que as formam e bater com a lista de notas da sua melodia.

Se quiser se aprofundar um pouco mais em teoria, consulte tabelas de escalas e acordes.

 Harmonia e Acordes

Outra coisa que você precisa saber para entender como escrever uma música é sobre os acordes e harmonia. Simplificando, acordes são 3 ou mais notas tocadas simultaneamente, por exemplo, se você tocar as 6 cordas de um violão ao mesmo tempo. Já a harmonia é o conjunto de acordes de uma certa tonalidade.

Na tonalidade de Dó Maior, por exemplo, teríamos os acordes de Dó Maior, Ré Menor, Mi Menor etc. Mas não se preocupe em decorar nada disso nesse momento. O que acontece é que a música ocidental tem certas regras que ditam quais acordes podemos formar dentro de certa tonalidade.

No passo anterior definimos a escala da sua melodia, certo? Agora é hora de saber quais acordes estão dentro da tonalidade encontrada. Mais uma vez, basta uma busca online para encontrar essa resposta, mas um hack muito útil é você pegar as notas da escala em ordem crescente e montar os acordes a cada 2 notas. Exemplo:

Escala de Dó Maior

Dó – Ré – Mi – Fá – Sol – Lá – Si – Dó

  • Se tocarmos a primeira, terceira e quinta notas juntas, teremos formado o primeiro acorde da tonalidade: 

Dó – Mi – Sol (Dó maior)

  • Se tocarmos a segunda, quarta e sexta notas juntas, teremos formado o segundo acorde da tonalidade: 

Ré – Fá – Lá (Ré Menor)

E assim sucessivamente!

Então, supondo que a sua melodia estava em Dó Maior, você pode usar qualquer combinação de acordes que desejar, desde que ela esteja dentro da tonalidade, criando um acompanhamento infalível para a sua melodia.

A forma reversa também funciona, ou seja, escolher uma tonalidade, criar uma sucessão de acordes, ou cadência, e depois uma melodia que combine com ela. Fica ao seu critério!

Perguntas para se fazer para saber como escrever uma música

Antes mesmo de começar a escrever músicas, você precisa responder algumas perguntas importantes. Confira!

Quem vai cantar essa música?

Você precisa pensar na voz da pessoa que irá cantar a sua música e qual o alcance vocal dela, tanto da nota mais grave, quanto da mais aguda. É claro que você pode mudar a tonalidade depois para acomodar melhor o seu cantor (caso já não tenha gravado o instrumental), mas isso sempre tem um impacto no caráter da música, independentemente de gênero.

Além disso, uma melodia muito fácil tecnicamente, que não exige muito do seu cantor, pode soar um pouco monótona. Por outro lado, notas muito graves ou agudas, ou ainda, intervalos muito rápidos ou muito dinâmicos podem saturar o seu vocalista. O segredo é balancear a dificuldade com conforto, conhecer a voz do intérprete e quão confortável ele/ela se sente em certas regiões.

Em que estilo / gênero eu quero compor? Quais são as minhas referências de músicas e artistas?

Para aprender a como escrever uma música, você pode se inspirar ou até mesmo estudar composições de outras pessoas. Inclusive, é até indispensável se você estiver escrevendo em um gênero que não conhece muito ou que não costuma ouvir. Então, tenha uma lista com algumas canções que te servirão de referência do começo ao fim do processo, desde a criação do primeiro fragmento musical, até o polimento na pós-produção.

Indo além nesse racioncínio, o que você pode aproveitar analisando suas músicas de referência / inspirações?

Depois de ouvir e se inspirar com outras canções, uma análise mais profunda vai te ajudar a capturar o caráter do gênero em que está tentando escrever. Você pode perceber, por exemplo:

  • que tipos acordes e escalas são mais usadas nesse tipo de música;
  • quantos tempos tem no compasso (ternário, quaternário);
  • se existe algum ritmo característico que define o estilo musical, seja na percussão ou na própria melodia;
  • que instrumentos são usados etc.

Qual é a finalidade da música?

Parte do processo de aprender a como escrever uma música é entender qual o objetivo dessa canção. Então, responda: é apenas um passatempo? Vai ser gravada em um estúdio? É para uma banda ou artista solo que pretende se apresentar ao vivo? É para acompanhar um vídeo ou peça teatral? Tudo isso vai influenciar o seu processo criativo.

Ademais, você deverá pensar em logística, instrumentos que você tem acesso, disponibilidade de músicos, equipamentos disponíveis, software que você possa precisar, e muito mais.

Criando ou melhorando o seu processo de como escrever uma música

E se você já conhece teoria musical o suficiente e já se fez as perguntas acima, nós ainda temos algumas dicas para desbloquear o seu processo criativo de como escrever uma música. Veja também algumas ferramentas que podem facilitar a sua vida.

Anote!

A inspiração não pode ser domada, ou seja, ela surge e vai embora quando bem entender! 

Lembre-se disso da próxima vez que estiver cantarolando o que poderia ser a segunda parte daquela melodia que estava emperrada a tempos. Ou quando estiver batucando aquele solo de bateria sensacional na cadeira do colega de trabalho, que arrasaria como introdução para a sua música.

Toda vez que a inspiração bater, anote! Anote em um celular, bloco de notas, áudio de WhatsApp, papel de pão… O que seja, mas anote! Esse lampejo de criatividade pode nunca mais voltar.

Brainstorm

Traduzido, Brainstorm significa Tempestade de ideias, e ele pode te ajudar a definir escalas, criar melodias e ritmos, ou até mesmo letras. Essa é uma técnica em que o conceito básico é jogar idéias, não apenas as boas, como também as ruins e ridículas, todas num pedaço de papel ou qualquer outro meio. Esse é um processo muito utilizado, porém, muito MAL utilizado em muitos casos.

O objetivo do brainstorm deve ser o de criar uma lista de ideias sem passar por filtro algum, sem censura ou medo de julgamento. E, apesar de soar como algo banal, nem sempre é uma tarefa simples desligar os preconceitos que temos. Esse desligamento é essencial para a tempestade de idéias, já que os filtros acabam influenciando e excluindo alternativas na etapa errada, antes da hora.

Portanto, se estiver escrevendo uma música com a sua banda e vocês estiverem travados, tentem fazer essa parte do processo sozinhos e combinando os resultados depois. Lembre que o objetivo do Brainstorm não é ter uma lista com várias ideias plausíveis prontas para serem utilizadas. A ideia é que as próprias insanidades também te sirvam de inspiração para idéias mais concretas e realistas, mas, agora sim, contestadas pela razão, aprimoradas e mais estruturadas.

Letras

Escrever a letra da canção é um universo a parte da música. Nem todo compositor é bom com palavras, e muitas vezes escrevem em parceria com outros músicos, ou até mesmo escritores, jornalistas, poetas, justamente para ter um auxílio nessa parte do processo. 

Existem maneiras infinitas de criar a letra para a sua melodia, mas, novamente, antes de sair cantando ou escrevendo, se faça algumas perguntas, como: 

  • Que mensagem quero passar?
  • Quem vai ouvir essa letra?
  • Qual é o objetivo dessa canção?
  • Protestar, questionar, inspirar, encantar? 

E se a música for para uma terceira pessoa, como uma banda, uma agência de publicidade, ou até mesmo para um político em campanha eleitoral, esses questionamentos são ainda mais importantes. 

Agora, se você ainda estiver travado com as palavras depois disso e não tem nem um poeta disponível para te ajudar, e nenhuma anotação ou Brainstorm útil, tente dar um passo de cada vez e testar algumas estratégias novas.

Dicas para avançar ou começar a escrever uma música

  • Não se preocupe em rimar, ou tentar encaixar inúmeras palavras em um compasso muito curto. Somente escreva, como se fosse um texto, uma descrição. Se ficar ruim você pode sempre reescrever. 
  • Leia letras de outros compositores sem ouvir a música. Isolar as palavras da música ajuda a analisar esse aspecto da composição de um novo ângulo e se inspirar. 
  • Seja autêntico! Escreva como você, não tente ser poético só por ser. Ou seja, se você não acreditar naquilo que está escrevendo, no final das contas, ninguém vai acreditar ou se conectar com a sua música.
  • Experimente formas criativas de escrever! Escreva, picote o papel e junte os pedaços até formar frases que quase façam sentido. Use dicionário de rimas e sinônimos. Seja menos literal, use termos inventados e palavras que normalmente não iriam juntas. Enfim, não tem regra!

Softwares e Equipamentos

A nossa última dica é investir em tecnologias que te auxiliem a gravar suas ideias de composição de forma mais completa, ou até mesmo produzir sozinho as suas faixas. 

Num passado não tão distante, tínhamos o músico/compositor e o produtor musical/técnico de estúdio como figuras de universos completamente separados. A realidade hoje é bem diferente.

Com o crescimento dos equipamentos voltados para o Home Studio o compositor consegue fazer o processo do começo ao fim: compor idéias avulsas, gravar instrumentos em overdubbing ou em camadas, mixar a faixa e até mesmo distribuir para serviços de Streaming por conta própria. 

Utilizando uma DAW, um controlador MIDI e uma biblioteca de samples e instrumentos virtuais (e, lógico, horas e mais horas de experiência do produtor gravando, mixando e masterizando) é possível recriar uma orquestra inteira de dentro de um quarto. Toda essa facilidade veio para ajudar o compositor, que hoje consegue gravar suas ideias sem gastar milhares de reais com tempo de estúdio e músicos contratados. 

Nossa sugestão é que você pesquise mais sobre equipamentos de Home Studio e DAWs gratuitas ou de baixo custo, e não precisa ir muito longe para isso, dá uma olhada no nosso blog mesmo: 

Todo o aprendizado agrega valor de alguma forma. Não somente para o produtor que estuda teoria musical, mas também para o compositor que se atualiza e aprende a gravar e produzir. Ao trabalharem juntos, ambos estão se aprimorando e podem não só fazer um bom trabalho, mas tentar criar algo excepcional combinando esses conhecimentos.

Resumo da ópera

Em conclusão, esperamos que tenha encontrado a resposta para a sua dúvida sobre como escrever uma música, ou no mínimo uma faísca de criatividade dentro desse texto tão extenso. Mas, como toda sinfonia é geralmente longa e também inspiradora, esperamos que nossas palavras ressoem nas suas composições de alguma forma.

Lembre-se que a música mudou muito ao longo dos séculos e continua mudando, e ela só evoluiu porque pessoas inovadoras não tiveram medo de quebrar regras e tentar algo diferente. Na busca por como escrever muma música, inspire-se, estude, e até copie seus ídolos um pouquinho, por que não? Mas também seja criativo, invente, ouse e, acima de tudo, seja você mesmo!


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Nerau