Carlos Pinto, 20/03/2020
A Behringer Wing é, certamente, uma mesa de som que chegou para mexer com o mercado. Uma marca tachada de meme de áudio por muitos recebeu upgrade considerável no momento em que Uli Behringer, o fundador da marca, adquiriu empresas como a Midas, Klark Teknik e TC Electronics. Com uma engenharia reforçada e um sistema crossover (não o equipamento), que junta o melhor do que cada empresa produz com o conhecimento base para a criação de um produto, não poderia dar em outra coisa: virar burburinho entre os técnicos do Brasil.
Tentando sair da polarização que assola nosso país do “amo ou odeio alguém ou alguma coisa”, o Mundo da Música traz neste texto impressões técnicas para uma tentativa de encaixe da Behringer Wing para o mercado brasileiro.
Antes que perguntem, a resposta é: não, ela não chega no Brasil para substituir, atualizar ou competir com a Behringer X32. São propostas diferentes e complementares. Tentando refazer um pensamento interno da marca e distribuidora pensemos: “preciso de mais de 32 canais, mas não tenho verba para adquirir um exemplar da prima rica MIDAS PRO”.
A Behringer Wing entra para suprir uma lacuna entre essas duas realidades, evitando, assim, que o cliente saia em busca de alguma solução fora do portfólio do grupo. Bem espertinhos!
Falar sobre este console demanda tempo, principalmente se você está chegando agora no mundo do áudio e no Mundo da Música. Para isso, abaixo estão os links que falam sobre essas mesas de som digitais e outros assuntos que podem complementar essa leitura. Aproveite!
Sempre será muito complicado comparar equipamentos se não colocarmos delimitadores para seu porte e, principalmente, para o seu tempo. Não cabe uma comparação direta de consoles que tenham features semelhantes, mas eras diferentes de desenvolvimento tecnológico. Dito isso, vamos tocar nos assuntos que julgamos mais interessantes inicialmente.
Um canal, duas entradas
A Behringer Wing processa até 48 Canais. São 40 canais em XLR (8 diretamente no console + 32 por expansão). Só que, em seu patch de entrada, ela pode inserir um PAR de XLR em seu canal. O que no passado se fazia ao “linkar” dois canais para termos um instrumento estéreo, na Wing o Teclado L e Teclado R podem ser o canal 1 da mesa, por exemplo. Isso permite que todos os canais ou instrumentos estéreos no input list da banda passem a ocupar somente um único espaço de fader. Boa, não?!
Seu Channel Strip é simples e intuitivo e, finalmente, já era hora, é uma tela central principal sensível ao toque (touch screen). Conta também com um software de visual agradável e outras pequenas telas que ajudam a informar o operador, não poluindo a tela principal. Isso pode trazer agilidade e conforto no uso do console.
Três tipos de pré-amplificadores
Na Behringer Wing temos 3 portas para expansão por meio do protocolo AES50. Sim, os mesmos usados pela MIDAS. No próprio console, temos 8 entradas XLR em nível de Microfone e 8 entradas em TRS (o P10) em nível de linha. O restante, 32 canais, são obtidos através dessas expansões.
Ok, mas e o lance dos três tipos de pré-amplificadores? Por se tratar de um protocolo único, a linha mais simples de Stagebox da marca (SD8, SD16, S16, S32), as linhas mais simples da midas que acompanha a MIDAS M32 (DL16, DL32) e as linhas mais sofisticadas MIDAS PRO (DL151, DL251, DL351) são compatíveis com a Wing. Então, se você leva muito em consideração a qualidade do pré-amplificador que o console tem, pode fazer a escolha entre cada patamar de pré-amplificador. Isso só depende de sua capacidade de investimento, é claro.
Plugins por Canal
A capacidade dos processadores dos computadores, tablets e smartphones teve um aumento substancial na última década. Como não poderia ser diferente, as mesas de som também foram melhoradas.
Com latência (tempo de processamento de entrega do sinal) em pouquíssimos milissegundos, esses novos equipamentos têm a capacidade de fazer processos pesados em múltiplos canais sem atrasar de forma significativa seu tempo. Com isso, ganhamos a capacidade de “pendurar” uma quantidade enorme de plugins sem medo de a máquina “travar”.
A Wing dá a possibilidade de adicionar plugins de modo a substituir o processo simples de compressão, gate e equalização nativo do console. Normalmente, era usado o que se tinha à disposição do canal. Agora, além de plugins específicos para essas tarefas, ela ainda dispõe de mais duas camadas de inserts.
16 auxiliares estéreos (Stereo Busses)
Ao utilizar a Behringer Wing como console de monitor de palco, temos à nossa disposição 16 auxiliares já estéreos. Ou seja, no passado era necessário um par de auxiliares caso estivéssemos usando monitor de fones com essa possibilidade. Perderíamos dois auxiliares para atender a demanda de apenas um músico.
Hoje, com a Wing, podemos usar duas saídas do console ou da sua expansão para fazer conversão de sinais para essa via estéreo. Obviamente, só conseguimos usar essa possibilidade em todas as saídas se tivermos uma extensão por stagebox para chegarmos aos 32 out necessários.
4 Master Fader LR
Um diferencial interessante que a Behringer tem é a presença de um grupo de 4 master fader. Sim, 4 masters estéreo. Isso pode ser muito útil quando temos que trabalhar com múltiplos envios e não queremos ficar procurando por páginas de matrix em algum lugar do console, em caso de urgência. Você pode escolher o quanto você quer de cada canal em cada uma das 4 saídas estéreos.
Assim, um exemplo possível é o uso de um P.A. na saída Master 1 e um Front Fill na saída Master 2, com somente alguns canais da mix, para não sobrecarregar. Além disso, quem nunca passou pela situação de, cinco minutos antes do show começar, chegar alguém com um cabo não mão perguntando: “tem como me mandar um sinal de áudio aí”? Surpreendentemente, na Wing já está pronto!
Gravação multipista direta
A Wing traz no seu pacote um par de estradas SD CARD, que podem ser utilizados para gravações multipistas direta no console, dispensando o uso de computador com uma DAW (Digital Audio Workstation) instalada.
Isso nos possibilita inúmeras formas de gravações, bem como a realização das famosas passagens de som virtuais (virtual sound check), quando gravamos uma determinada banda em multicanais e, no evento seguinte, usamos essa gravação para iniciar nossa passagem de som com os instrumentos de forma separada – sem precisar “alugar” o roadie na hora do: “Bumboooo!… Caixaaaaaa!”.
Essa placa inclusa na Behringer Wing pode ser substituída por outras placas com protocolo DANTE ou protocolo MADI para conexões com outros tipos de sistemas.
Sim, eu entendo, se você já tem seu computador e está familiarizado com sua DAW favorita, seja ela o Protools, Reaper, Cubase, Logic Pro, ou qualquer outra, você poderá utilizar a sua saída USB 2.0 presente no console pra fazer a conexão direta com sua máquina.
Principais Especificações Técnicas da Behringer Wing
Processamento
- Canais de entrada processáveis: 40 Entradas estéreos, 8 Auxiliares estéreos.
- Canais de Saídas processáveis: 16 Auxiliares estéreos, 8 matrix estéreos, 4 Mains estéreos.
- Conversores A/D (Entradas do console): 24Bits/192KHz.
- Conversores D/A (Saídas do console): 24Bits/192KHz.
- Processamento: 40 Bits Flutuantes / 48KHz.
- Máquinas de Efeitos: 8 Efeitos Premium, 8 Efeitos Standart.
- Latência (de entrada à saída): 1,0 ms.
- Latência (Stagebox > Console > Stagebox): 1,2 ms
Principais Conectores no Console
- Entradas com pré-amplificador: 8 (XLR).
- Saídas: 8 (XLR)
- Auxiliar Input: 8 (TRS mono).
- Auxiliar Output: 6 (TRS mono).
- Saída de Fones: 2 (TRS estéreo).
- Portas AES/EBU: 1in/1out (XLR).
- Portas AES50: 3 (Ethernet)
- Porta de Expansão: Card SD CARD 64in/64out (incluso).
- USB (Host): 1 USB 2.0.
- USB (Remote): 1 USB 2.0
Display e Controles
- Tela Principal: 10,1” TFT LCD 1280×800 pixels, Sensível ao toque (Capacitivo).
- Tela de Edição: 2,4” TFT LCD 320/240 pixels.
- Tela de Grupo de 4 Canais: 320/48 pixels.
- Faders: 24 x 100mm (moving)
- Encoder sensitivos: 29.
Alimentação e Atributos Físicos
- Tensão: 100-240 VAC (50/60Hz).
- Consumo de energia: 130 W.
- Temperatura operacional: 5°C/40°C.
- Dimensões (AxLxP): 201 x 870 x 575 mm.
- Peso: 24 kg.
Fonte: Site da Marca
Conclusão
Acreditamos que a tentativa da Behringer com a Wing é desconstruir uma restrição ao uso da marca que lhe colocava em situação incômoda há um bom tempo, a de não estar presente em grandes riders de bandas.
A X32 já fez um ótimo trabalho no quesito sonoridade e ferramentas à disposição do técnico. Quanto à consistência e durabilidade mecânica, em algumas situações mais insalubres, a mesa de som ainda teve algumas ressalvas. Principalmente na sua chegada.
A Behringer Wing talvez mude esse estigma, mas isso vai depender do “grande senhor”: o mercado. Por si só, a chegada de um equipamento com tecnologia atualizada é esperada mais entrega com menos investimento. O fato é que ela está sendo muito falada em grupos de redes sociais, e isso só aumenta a expectativa e a responsabilidade do produto.
Vamos aguardar os novos capítulos dessa série (já que novela está em desuso) para entender na prática onde o equipamento se posiciona. O certo é que veremos muitas delas em uso no curto prazo – assim, tiramos nossas próprias conclusões. O tempo certamente responderá nossos questionamentos.
