Efeitos na mesa de som: aprenda a melhor forma de usá-los ao vivo

Aprender a controlar os efeitos na mesa de som é o primeiro passo que a maioria das pessoas arrisca assim que entende as funções básicas de um mixer. Quando a banda começa a tocar, você sente falta daquela incrementada no som? Por aqui você já teve acesso a o que uma mesa pode fazer. Então, se você está pronto para adicionar efeitos ao trabalho, acompanhe este texto. Mas, antes, certifique-se de que já sabe do que se trata o que segue abaixo: 

  • Canais da mesa;
  • Diferença entre mono e estéreo;
  • Préamp e ganho;
  • Plugs: TRS (P10), TRS (P2), XLR, RCA;
  • Equalizador;
  • Controles de volume;
  • Entradas e saídas para auxiliares: PAs, monitores de retorno, fone, CD, etc. 

Pronto? Para começar a falar sobre o assunto, gostaríamos de fazer uma pergunta. Ou melhor, uma provocação. 

Para quê você quer usar efeitos na mesa de som? 

Aplicar efeitos na mesa de som passa por certa habilidade técnica, mas já entra um bocado o campo artístico. Por isso, é complicado falar pontos como: 

  • Qual é o melhor efeito para você usar?
  • Como e quanto de efeito você deve colocar?
  • Em qual instrumento você deve aplicar determinado efeito?

Estas questões são relativas. Assim, variam de acordo com a proposta. Sobretudo, envolvem gosto. E gosto, já dizia o ditado…

Porém, mesmo assim, como você está bastante interessado, vamos dar uma passada sobre os efeitos mais comuns. 

Reverb

O mais conhecido e um dos mais usados efeitos na mesa de som. Talvez porque ele não seja um efeito que cria algo artificial, mas um simulador de algo possível naturalmente. O reverb é um efeito natural criado por ondas acústicas refletidas em superfícies. Conforme o som é absorvido pelas superfícies presentes no ambiente, ele é refletido de uma maneira, dependendo das próprias superfícies – madeira, metal, gesso, vidro – e também das formas: lisa, ondulada, circular, etc. 

Por isso, cada local causa uma reverberação diferente, de acordo com o material e tamanho. O reverb não é o eco, que acontece em distâncias maiores. 

O efeito que simula reverb é básico em todo show. Tanto, que seus tipos tem nomes como “reverb de salão” (reverb hall), “reverb de prata”, “reverb de mola” (esse simula os reverbs analógicos de antigos amplificadores, produzido por uma mola), “reverb molhado” (wet reverb). Assim, deve usado com moderação. 

Caso o espaço onde a apresentação vai acontecer já proporcione reverb natural, talvez você tenha que se preocupar mais em cortar frequências que o local reverbera em demasia, do que em adicionar o efeito. 

Porém, normalmente na voz e em alguns tambores da bateria, um pouquinho de reverb pode deixar o som menos cru. São encontrados no mercado efeitos como o “ambience” que são mais precisos nessa intenção – em sugerir não a própria reverberação, mas só um clima que o ambiente dá ao som. Mas, novamente, tudo depende do gosto: cuidado para não colocar em um evento para 200 pessoas o reverb de uma catedral!

Delay (Eco)

É aquela repetição do som emitido, preferencialmente aplicado em vozes. Usos exemplares do delay podem ser ouvidos nos vocais de vários artistas de reggae – mais ainda de dub – naquela guitarra característica de surf music ou nos solos de sucessos do Pink Floyd (“Another Brick in the Wall”) e U2 (“With or without you”). 

A duração do delay e o tempo ao longo do qual a nota se repete são configuráveis. Dessa forma, o efeito possui variáveis como o delay reverso, em que a nota se repete ao contrário. 

Em shows, quando aplicado em dose bem baixa, não chega a ser perceptível, mas dá uma “molhadinha”, interessante para a mix total do palco. 

Chorus

Ouvir esse efeito transporta para os anos 80 – para hits de artistas como Lulu Santos (“Tudo azul”) e The Police (“Every breath you take”), Prince (“Purple Rain”). O chorus tem (ou, pelo menos, tinha), a finalidade de produzir a sensação de uma dobra na quantidade de som emitido. Digo que tinha porque, assim como vários efeitos, pedais, funções e até instrumentos musicais, ele foi criado com um propósito que não foi exatamente alcançado, mas o resultado agradou assim mesmo.

O chorus mistura o som com ele mesmo, com uma leve oscilação na afinação e atraso de poucos milissegundos. 

Flanger e Phaser

Assim como o chorus, foram criados por Les Paul – sim, o da guitarra. Ambos projetam a repetição da onda sonora com um leve atraso entre as notas, gerando uma diferença de fase. 

Mas, no flanger, esse retorno do sinal à fonte de áudio original é uniforme, o que provoca alterações sonoras dentro do campo harmônico. Já no phaser, o filtro altera a fase do sinal de forma não linear e, quando ele volta, sua mescla com o som original cria distorções nas frequências harmônicas, produzindo um efeito mais dissonante. Ambos os efeitos são os prediletos de Eddie Van Halen, como fica claro em “Ain’t Talkin ‘bout love” (flanger) e “Eruption” (phaser). 

Pitchs, oitavadores e harmonizers

O pitch é capaz de modular a nota para cima e para baixo, enquanto o oitavador é mais preciso em dobrar a nota executada exatamente para a nota correspondente nas oitavas anteriores ou seguintes.

O óbvio passo seguinte desse recurso foi o harmonizer. Da alteração da frequência alcança-se harmonia para qualquer nota e, com o pitch shifter, a ferramenta percebe a escala e harmoniza perfeitamente com a melodia, seja ela maior ou menor. Esses efeitos são muito usados em pedais específicos de guitarra e vozes. 

Agora, imagine só misturar alguns desses efeitos e as maravilhas a que você pode chegar? Novamente, entram em campo o objetivo e conceito artístico do show: o formato voz e violão possibilita ideias diferentes de uma banda completa. Um show em espaço a céu aberto; outro em um bar pequeno: a razão entre possibilidade e necessidade. 

Como explicamos no começo do texto, o know-how técnico precisa ser aliado à estética. 

Guitarras, teclados e alguns outros instrumentos normalmente têm os próprios dispositivos de efeito. Neles, a aplicação do recurso causa um impacto diferente, dizendo mais respeito ao colorido daquele timbre em sua presença específica na canção do que ao som da banda como um todo. 

Como usar efeitos na mesa de som

Mesas com 12 canais para mais já costumam apresentar efeitos nativos. Outra alternativa é usar racks externos de efeitos, individuais ou em grupo. 

Efeitos nativos

Facilmente configuráveis. Cada canal da mesa tem seu próprio knob de efeito (FX) no qual é possível controlar a presença de cada efeito naquele determinado instrumento. Porém, tem poucas possibilidade de manipulação dos parâmetros dos seus efeitos. Praticamente só usa em forma de presets.

Efeitos externos

Um princípio interessante para entender a relação mesa/efeitos externos é saber que a mesa divide o sinal em dois, enviando o áudio puro para o dispositivo externo e recebendo ele processado de volta para mixar com o som limpo. Quando esse som retorna, o efeito deve estar totalmente presente (mix 100%), para que você use o botão da mesa apenas para mixar os dois sinais. 

Por isso, é importante deixar o sinal do efeito no máximo (esteja ele vindo do processador ou do pedal). Caso esteja baixo, o sinal processado vai perder em potência quando mixado ao som da mesa. Ficou claro? 

Sim, é possível ligar pedais de instrumentos ou voz à mesa. Outra opção é conectar processadores externos de efeitos que, assim como os pedais, possuem saídas e entradas com plug para p10. Você vai precisar, portanto, desse tipo de cabo para a função. 

Em canais separados (um processador por canal)

Basta empregar um cabo de Insert (cabo Y) – uma ponta com dois plugs mono e outra com um plug estéreo. 

  • Ligue o plug estéreo na entrada insert i/o do canal desejado; 
  • Ligue um dos plugs da outra ponta na entrada do pedal ou do processador. 
  • O outro plug mono você conecta à saída do processador ou do pedal. 

Entretanto, se você quiser adicionar vários efeitos na mesa, o volume de aparelhagem na sua técnica vai ficar um pouco excessivo, não? Por isso, é mais comum usar um processador para todos os canais, ao mesmo tempo. 

Em todos os canais simultaneamente

É a opção mais usada. Ganha em praticidade. Um periférico pode ser ligado em todos os canais juntos. Mas, calma, você não será obrigado a ter esse efeito em todos os canais. Veja como fazer: 

  • Plugue um cabo na saída auxiliar FX send da mesa ou na saída auxiliar – estéreo caso haja essa opção, ou mono, na saída esquerda; 
  • Conecte a outra ponta desse mesmo cabo na entrada do processador; 
  • Da saída do processador, ligue outro cabo, que vai voltar à mesa na entrada do auxiliar. 
  • Você configura o efeito no próprio periférico e sua entrada na mesa através do knob de FX geral ou auxiliar. 

A presença dos efeitos em cada instrumento pode ser controlada por meio do botão FX, que cada canal tem. 

Vamos usar como exemplo um reverb ligado na mesa.  

  • O efeito não é necessário no teclado: o knob FX do canal do teclado fica zebrado. Que tal um pouquinho no bumbo? Aumente o botão FX desse canal até chegar ao ponto desejado. 
  • A voz precisa de mais reverb? Suba bem o FX do canal do microfone do cantor. 

Atenção para a opção Post-fader dos canais da sua mesa. Ele influencia no sinal enviado ao auxiliar ou FX send, que vai para o processador. 

  • Pre fader: independentemente do volume dos canais, o sinal que vai sair da mesa nunca é alterado. Quando o som volta processado, você usa o fader de volume e nada muda.
  • Post fader: acessando esse modo, qualquer alteração nos faders do volume vai influenciar na saída que está sendo enviada para o dispositivo. Isso significa mais sinal sendo jogado pro processador de efeitos. Tente usar reverb sempre em auxiliares pós fader, pois isso garante a naturalidade do som em um ambiente fechado. Se você fala mais alto, tem mais reverb, correto?

Ficou com água na boca? Ou qualquer que seja o corresponde auditivo a essa sensação! O próximo passo é escolher o periférico ideal para seu caso. 

Lembre-se: isso depende dos artistas com quem você trabalha, dos espaços onde você opera e de que som você quer alcançar. Continue ligado(a) no Mundo da Música e você terá as melhores dicas de equipamentos para shows!

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Nerau